Durante este Jubileu [da Misericórdia] refletimos várias vezes sobre o facto de Jesus se exprimir com uma ternura única, sinal da presença e da bondade de Deus. Hoje deter-nos-emos sobre um passo comovente do Evangelho (cf. Mateus 11, 28-30), no qual Jesus diz: «Vinde a mim, vós todos que andais cansados e oprimidos, e eu vos darei descanso (…). Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa vida».
O convite do Senhor é surpreendente: chama a segui-lo pessoas simples e sobrecarregadas por uma vida difícil, pessoas que têm muitas necessidades, e promete-lhes que nele encontrarão repouso e alívio.
O convite é dirigido de forma imperativa: «Vinde a mim», «tomai o meu jugo» e «aprendei de mim». Procuremos colher o significado destas expressões. Se todos os líderes do mundo pudessem dizer isto. O primeiro imperativo é: «Vinde a mim».
Dirigindo-se àqueles que estão cansados e oprimidos, Jesus apresenta-se como o Servo do Senhor descrito no livro do profeta Isaías, que diz: «O Senhor deu-me uma língua de discípulo, para que eu saiba dirigir uma palavra aos desanimados». A estes desanimados da vida, o Evangelho junta muitas vezes os pobres e os pequenos. Trata-se de quantos não podem contar com os próprios meios nem com amizades importantes.
Estes só podem confiar em Deus. Conscientes da própria condição humilde e mísera, sabem que dependem da misericórdia do Senhor, esperando dele a única ajuda possível. No convite de Jesus encontram finalmente resposta à sua espera: tornando-se seus discípulos, recebem a promessa de encontrar descanso para toda a vida. Uma promessa que no termo do Evangelho é estendida a todas as pessoas: «Ide – disse Jesus aos apóstolos – e fazei discípulos todos os povos».
Acolhendo o convite a celebrar este ano de graça do Jubileu, em todo o mundo os peregrinos atravessam a Porta da Misericórdia aberta nas catedrais e nos santuários, em muitas igrejas do mundo, nos hospitais, nas prisões, tudo isto para encontrar Jesus, a sua amizade, o descanso que só Jesus sabe dar.
Este caminho exprime a conversão de cada discípulo que se coloca no seguimento de Jesus. E a conversão consiste sempre no descobrir a misericórdia do Senhor, infinita e inesgotável, é grande a misericórdia do Senhor. Atravessando a Porta Santa, portanto, professamos que o amor está presente no mundo e que este amor é mais poderoso do qualquer género de mal, no qual o homem, a humanidade, o mundo estão envolvidos.
O segundo imperativo diz: «Tomai o meu jugo». No contexto da Aliança, a tradição bíblica utiliza a imagem do jugo para indicar o vínculo estreito que liga o povo a Deus e, consequentemente, a submissão à sua vontade expressa na Lei. Em polémica com os escribas e fariseus, Jesus põe sobre os seus discípulos o seu jugo, no qual a Lei encontra o seu cumprimento. Quer ensinar-lhes que descobrirão a vontade de Deus mediante a sua pessoa, mediante Jesus, não mediante leis e prescrições frias que o próprio Jesus condena. Ele está no centro da sua relação com Deus, está no coração das relações entre os discípulos e coloca-se como fulcro da vida de cada um. Recebendo o “jugo de Jesus” cada discípulo entra assim em comunhão com Ele e é tornado partícipe do mistério da sua cruz e do seu destino de salvação.
Daqui se segue o terceiro imperativo: «Aprendei de mim». Aos seus discípulos Jesus preconiza um caminho de conhecimento e de imitação. Jesus não é um mestre que com severidade impõe aos outros pesos que Ele não carrega – esta é a acusação que fazia aos doutores da lei. Ele dirige-se aos humildes e aos pequenos porque Ele próprio é pobre e provado pelas dores. Para salvar a humanidade Jesus não percorreu um caminho fácil; ao contrário, o seu caminho foi doloroso e difícil. Como recorda a Carta aos Filipenses: «Humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até à morte, e a uma morte de cruz». O jugo que os pobres e os oprimidos carregam é o próprio jugo que Ele levou antes deles: por isso é um jugo leve. Ele tomou sobre as costas as dores e os pecados de toda a humanidade.
Para o discípulo, portanto, receber o jugo de Jesus significa receber a sua revelação e acolhê-la: nele a misericórdia de Deus assumiu a pobreza dos homens, dando assim a todos a possibilidade da salvação. Mas porque é que Jesus é capaz de dizer isto? Porque Ele fez-se tudo para todos, deu-se aos pobres, às pessoas, trabalhava todos os dias com elas, Jesus não era um príncipe. É mau para a Igreja quando os pastores se tornam príncipes, afastados das pessoas, dos mais pobres. Esse não é o espírito de Jesus; a estes pastores Jesus repreendia e dizia: «Fazei aquilo que dizem mas não aquilo que fazem».
Queridos irmãos e irmãs, também para nós há momentos de exaustão e de desilusão. Recordemos então estas palavras do Senhor, que nos dão muita consolação e nos fazem compreender se estamos a colocar as nossas forças ao serviço do bem. Com efeito, às vezes a nossa exaustão é causada por termos posto a confiança em coisas que não são o essencial, porque nos afastámos daquilo que vale realmente na vida. O Senhor ensina-nos a não ter medo de o seguir, porque a esperança que nele colocamos não será desiludida.
Por isso somos chamados a aprender dele o que significa viver de misericórdia para sermos instrumentos de misericórdia. Viver de misericórdia para sermos instrumentos de misericórdia, viver de misericórdia quer dizer ser necessitados de Jesus e aprendermos assim a ser misericordiosos com os outros. Ter fixo o olhar no Filho de Deus faz-nos compreender quanto caminho ainda temos de fazer; mas ao mesmo tempo infunde-nos a alegria de saber que estamos a caminhar com Ele e nunca estamos sós. Coragem, por isso, coragem! Não nos deixemos tirar a alegria de sermos discípulos do Senhor. «Mas, padre, eu sou um pecador»: deixa-te ir e, Jesus, sente sobre ti a sua misericórdia e o teu coração será repleto de alegria e perdão. Não nos deixemos roubar a esperança de viver esta vida juntamente com Ele e com a força da sua consolação.
Papa Francisco
Audiência geral, Vaticano, 14.9.2016
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 14.09.2016 no SNPC de Portugal
Imagem: site do Vaticano 2020