A parábola do Evangelho em que um pastor é impelido a abandonar as suas 99 ovelhas para ir recuperar uma que se tinha transviado esteve na base da catequese que o papa proferiu esta manhã, na Praça de S. Pedro, no Vaticano, durante a audiência-geral semanal.
«Estamos todos avisados: a misericórdia para com os pecadores é o estilo com que Deus age, e a tal misericórdia Ele é absolutamente fiel: nada nem ninguém poderão demovê-lo da sua vontade de salvação», acentuou.
Excertos da intervenção:
«Trata-se de um paradoxo que induz a duvidar do agir do pastor: é sensato abandonar as noventa e nove por uma só ovelha? Ainda mais não estando na segurança de um redil, mas no deserto? Segundo a tradição bíblica, o deserto é lugar de morte onde é difícil encontrar alimento e água, sem refúgio e à mercê das feras e dos ladrões. Que poderão fazer noventa e nove ovelhas indefesas?»
«O ensinamento que Jesus nos quer dar é sobretudo o de que nenhuma ovelha pode estar perdida. O Senhor não pode resignar-se ao facto de que mesmo uma só pessoa possa perder-se. O agir de Deus é o de quem vai á procura dos filhos perdidos, para depois fazer festa e alegrar-se com todos por os ter reencontrado. Trata-se de um desejo irreprimível: nem sequer as noventa e nove ovelhas podem deter o pastor e tê-lo fechado no redil.»
«O rebanho do Senhor está sempre a caminho: não possui o Senhor, não pode iludir-se de o aprisionar nos nossos esquemas e nas nossas estratégias. O pastor será encontrado onde está a ovelha perdida. O Senhor, portanto, deve ser procurado onde Ele quer encontrar-nos, não onde nós pretendemos encontrá-lo. De nenhum outro modo se poderá recompor o rebanho a não ser seguindo a via traçada da misericórdia do pastor.»
«Enquanto procura a ovelha perdida, ele provoca as noventa e nove para que participem na reunificação do rebanho. Então não é só a ovelha [perdida] que é levada [pelo pastor] às costas, mas todo o rebanho seguirá o pastor até à sua casa para fazer festa com «amigos e vizinhos».
«Deveremos refletir muitas vezes nesta parábola, porque na comunidade cristã há sempre alguém que falta e foi-se embora deixando o lugar vazio. Às vezes isto é desencorajador e leva-nos a crer que é uma perda inevitável, uma doença sem remédio. É então que corremos o perigo de nos fecharmos dentro de um redil, onde não haverá o odor das ovelhas mas mau cheiro de fechamento.»
«Isto acontece quando falta o impulso missionário que nos leva a encontrar os outros. Na visão de Jesus não há ovelhas definitivamente perdidas (…), mas só ovelhas que vão ser reencontradas. A perspetiva, portanto, é totalmente dinâmica, aberta, estimulante e criativa. Impele-nos a sair à procura para empreender um caminho de fraternidade.»
«Nenhuma distância pode manter longe o pastor; e nenhum rebanho pode renunciar a um irmão. Encontrar quem se perdeu é a alegria do pastor e de Deus, mas é também a alegria de todo o rebanho. Somos todos ovelhas reencontradas e recolhidas pela misericórdia do Senhor, chamados a recolher para junto dele todo o rebanho.»
Na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, o papa Francisco afirmou: «Irmãos e amigos, estais em boas mãos, estais nas mãos da Virgem Maria. Ela vos proteja da tentação de prescindir dos outros, pensando em salvar-vos sozinhos. Rezai por mim! Que Deus vos abençoe!»