De cada vez que sabemos de um jovem que morre por causa (também) da tecnologia, somos trespassados por uma dor enorme. Depois de pensar na família, e depois de rezarmos por ela e pela vítima, dizemo-nos com angústia: a tecnologia está a matar os nossos jovens.
Segue-se uma onda de medo, inclusive físico, acompanhada por outro pensamento: poderia acontecer à minha filha ou ao meu filho (neto, etc.). Logo depois surgem duas perguntas. A primeira: o que podemos fazer, nós, adultos, para prevenir tudo isto? A segunda: como podemos parar tudo isto?
O primeiro instinto é o de desligar tudo. De fazer desaparecer tudo. De lançar pela janela os telemóveis e encerrar todos os nossos perfis nas redes sociais, e fazê-los fechar também aos nossos filhos e netos.
A 19 de março, chantageada por um adolescente por causa de algumas fotografias íntimas, uma jovem de 13 anos pensou suicidar-se numa escola italiana. Antes de o fazer, porém, deixou um bilhetinho a uma professora, e foi assim que se salvou.
Há dias, chegou a notícia de uma jovem que, na Malásia, se teria suicidado depois de ter lançado uma sondagem no Instagram, perguntando aos seus seguidores: D/L? (ou seja, vida ou morte?) (uso o condicional, como fizeram os meios de comunicação social daquele país, “detalhe” que não foi levado em conta no eco que o eventual acontecimento teve em Portugal).
Longe de mim querer subvalorizar a problemática e por vezes perigosa relação entre as crianças e os jovens e a tecnologia. Mas precisamente porque se trata de algo extremamente importante, devemos descrevê-lo com maior responsabilidade. Que não significa menosprezá-lo nem esconder-lhe os defeitos, mas também não fazer parangonas sem esperar a clarificação dos factos.
O medo, semeado em pequenas doses, pode aumentar a consciência. Mas em grandes doses só provoca estragos. E demasiados pais, perante o excessivo poder das tecnologias, ficam paralisados pelo medo. Com o resultado de não fazer nada, fazendo sua a frase «já não sabemos como nos havemos de defender desta deriva, a não ser com o silêncio». Um erro colossal.
Nunca como nestes casos temos o dever de não ficar em silêncio e de não nos deixarmos paralisar pelo medo. Temos o dever de ser adultos, antes de tudo aos olhos dos nossos filhos. Que não nos pedem para sermos peritos de tecnologia, mas de vida. É exigente? Sim, mas é cada vez mais necessário.
Assim é que demasiadas vezes nos esquecemos que muitos jovens, como a da escola italiana, decidem viver no último momento, porque encontraram um adulto a quem se confiar. Porque a palavra chave nestes casos não é tecnologia, mas confiança. Que se cria a escutar e a dialogar. O que é muito diferente do silêncio amedrontado ou resignado.
In Avvenire
Trad./adapt.: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.05.2019 no SNCP