Pode ser a família mais desligada de religião, mas se ela mantém algum resquício de profissão de fé, normalmente os pais rezam com os filhos em algumas ocasiões ou ensinam a eles a rezarem. À noite, antes de dormir, a mãe ensina o filho a juntar as mãozinhas e a agradecer a Deus por mais um dia ou, quando algum parente encontra-se enfermo, ela convida o filho a rezar por sua recuperação. Para aquele que crê, rezar é uma necessidade antropológica, ou seja, faz parte de sua vida e ela não pode ser pensada sem tal.

 

A oração acalma, dá esperança, anima, enche de paz. Mas por que a oração faz tudo isso? Porque ela gera comunhão com Deus. Quando a gente ora ou reza – orar e rezar são sinônimos – todo nosso ser fica predisposto à ação de Deus; nosso coração se abre para a ação divina; nossa vida é colocada nas mãos dele. Esse gesto de confiança e entrega têm efeitos salutares sobre nós. Nosso cérebro se revigora e se prepara para os turbilhões da vida. Então, rezamos, mas não só para pedir graças a Deus (a cura de um parente, por exemplo). Rezamos porque não sabemos viver sem rezar; porque a pessoa de fé tem necessidade de cultivar sua amizade com Deus, de se relacionar com ele, de lhe falar dos seus problemas, de suas conquistas etc.

 

No caminho de discipulado que a catequese quer ser, a oração tem lugar de destaque. Afinal, não dá para ser discípulo de Jesus por obrigação, mas sim por opção, porque se quer entrar em relação com ele, ser seu amigo, ficar mais próximo dele. E neste caso, a oração apresenta-se como um caminho insubstituível. Por isso, na catequese, costuma-se rezar em todo encontro. Começamos e terminamos nossos encontros rezando. Esta é uma prática do povo católico. As reuniões são sempre abertas por um momento orante. Mas como orar com as crianças, os jovens e os adolescentes de nossa catequese hoje? Será que basta ensinar o Pai-nosso e a Ave-Maria ou a Oração ao Espírito Santo? Seria suficiente decorar a Oração do anjo da guarda, o Credo (que na cultura de muitos espanta os demônios) ou outras orações que desde cedo aprendemos a recitar? Aí é que mora o problema. Quando falamos em oração, normalmente, pensamos nestas preces decoradas ou em outras práticas de piedade, tais como o terço ou as novenas. Mas existe uma gama de possibilidades de oração, para além destas práticas mais regulares. A Catequese hoje quer redescobrir essas práticas, sempre presentes na vida cristã, e revalorizá-las. Mais que ensinar orações decoradas, a catequese quer ensinar a orar. Para orar é preciso criar uma atitude de abertura e acolhida. A catequese tem como função colocar o catequizando em comunhão com Deus, proporcionar seu encontro com Jesus, ou seja, proporcionar ocasião para a experiência cristã de Deus. Para isso, não basta ensinar orações. É importante deixar a oração brotar do coração, afinal orar é conversar com Deus.

 

Se orar é conversar com Deus, então precisamos pouco a pouco crescer no conhecimento de Deus, na amizade com ele. A gente normalmente conversa com os conhecidos, com os amigos, com aqueles que nos são íntimos. Não puxamos assuntos com desconhecidos, a não ser em raros casos. O diálogo fecundo se dá com aquele que amamos, com alguém em quem confiamos. Aí se dá uma coisa maravilhosa: a oração gera conhecimento de Deus, coloca em comunhão, faz surgir uma bela amizade com ele. E, quanto mais conhecimento dele ou quanto mais nos tornamos amigos, mais vontade de orar, de estar ao seu lado lhe falando de nossa vida, nossas angústias e conquistas. Forma-se um círculo fecundo e crescente. Por isso, na catequese, não podem faltar bons momentos de oração. E, para isso, as orações decoradas não são a melhor fórmula, apesar de terem seu valor. A catequese vai se esmerar em ajudar os catequizandos a se expressarem espontaneamente com Deus, a lhe falar de coração aberto. Então, nenhum pai ou mãe deve se preocupar se seu filho não aprender as orações da tradição católica logo nos primeiros anos de catequese. Ele vai aprender essas preces naturalmente, à medida que elas forem acontecendo nos encontros, à medida que o catequizando for mergulhado na comunidade eclesial. Mas não se preocupem os pais: apesar de não aprender as orações, os mandamentos, os sacramentos, as práticas de piedade como novenas, terços e rituais litúrgicos, ele vai aprender a confiar em Deus, ele vai sentir seu amor, ele vai experimentar a alegria de ser discípulo de Jesus, ele vai abrir seu coração para um diálogo fecundo e transformador com o Pai do Céu que o ama. Ele vai aprender a conversar com Deus. Isso é muito mais importante que qualquer outra aprendizagem. Se a catequese conseguir essa façanha, já estará de bom tamanho, já terá atingido sua finalidade.


Solange Maria do Carmo

Biblista, professora de Sagrada Escritura e Catequética na PUC-Minas

15.10.2013