Muita gente estranha que a catequese não seja aula de religião, nem se dedique mais a ensinar uma porção de coisas importantes sobre a fé e a Igreja. Alguns dizem: “Eles só ficam brincando...”. Quem fala assim não conhece bem a Catequese Permanente que foi implantada em nossa paróquia. De fato, os encontros de catequese são dinâmicos, animados, divertidos até. Vamos falar a verdade. Até nós adultos, pais e catequistas, preferimos reuniões animadas, encontros dinâmicos, missas participativas, em vez de palestras massantes, reuniões enfadonhas, celebrações ritualistas. Ainda mais as crianças, os adolescentes e os jovens! Um encontro animado, participativo, cheio de dinâmicas, músicas e orações parece voar e a gente nem vê passar. Mas o fato de o encontro ser animado e participativo não significa que ele seja sem conteúdo, que a teologia partilhada seja sem substância, que a fé seja uma água rala sem nenhuma densidade. Não! É até o contrário! A fé é coisa tão séria, tão importante, que não dá para transformá-la em uma aula, sem perder o que ela tem de melhor e mais importante: sua dimensão existencial. Por isso, a Catequese hoje insiste em fazer acontecer encontros bem alegres e prazerosos, como a vida deve ser, mas sérios e responsáveis, como deve ser nossa postura diante da vida.

Se tem algo que de fato mexe com a gente e nos desperta para aprender é a brincadeira. Precisamos resgatar o prazer de aprender. É bem verdade que a aprendizagem exige esforço, dedicação, gasto de energia... mas isso não significa que ela não seja prazerosa. Normalmente, registramos na memória os momentos de prazer intenso, de emoção transbordante. Quando a emoção toma conta do coração, a cabeça registra o evento e a gente não esquece mais. Vejamos um exemplo: uma mãe sofre ao dar a luz a um filho, passa dores, medos, faz renúncias, sacrifícios para que ele venha ao mundo saudável. E, quando ele nasce, tal é sua alegria, sua emoção, que toda a dor do parto fica no esquecimento. A cabeça registra a emoção do momento vivido, a alegria de tomar o filho nos braços pela primeira vez. Não foi preciso fazer um curso sobre dar a luz, nem sobre como amar os filhos. Ela aprendeu a amar amando; aprendeu a ser mãe dando a luz, cuidando, protegendo seu filho... Isso mostra que aprendemos não só com a cabeça, mas com todo nosso ser. No processo de aprendizagem, a emoção e o prazer são elementos fundamentais. Daí a importância de os encontros de catequese serem prazerosos, divertidos, alegres... encontros que emocionam, que tocam o coração.


Quando falamos que os encontros emocionam não estamos dizendo que eles devem fazer chorar. Muita gente pensa que Deus tocou seu coração, quando, num encontro, chorou, se emocionou. Não! A emoção está muito além do choro. Uma pessoa pode se emocionar e não chorar. E uma pessoa pode chorar, sem uma emoção verdadeira, só por comoção passageira provocada pelo ambiente. A emoção está ligada ao profundo do coração, àqueles sentimentos verdadeiros que dão significado aos momentos vividos. Há muitos sentimentos que mexem com a gente: a alegria, o arrependimento, a raiva, a confiança, o medo, a insegurança, a tristeza etc. Eles marcam nossas vidas e fazem os momentos ficarem eternos. Ora a catequese não dispensa as emoções para se ater somente à intelecção; nem dispensa a intelecção em nome das emoções vividas. O ato catequético acontece considerando a pessoa na sua integralidade: a mente que quer dar as razões da fé; o coração que quer se emocionar e criar laços relacionais; o corpo que quer sentir prazer de pertencer e participar. Por isso, os encontros catequéticos não são uma aula. Para a Catequese brincar é coisa séria, apesar de divertida.


As atividades pedagógicas, sejam elas brincadeiras mais animadas ou momentos mais introspectivos e silenciosos, têm fundamental importância nos encontros. Elas ajudam a assimilar o conteúdo, a entrosar a turma, a vencer a timidez. Por meio delas o catequizando se revela, se mostra, vence barreiras, se supera. Elas ajudam a pôr pra fora as emoções, os sentimentos mais profundos em relação a Deus e aos irmãos, sentimentos que devem ser revelados. Além disso, elas alegram, tiram o ar sisudo da religião, afinal religião é coisa séria mas não não é coisa que combine com mau-humor, com rigorismo, com intransigência. Os encontros catequéticos devem ser momentos prazerosos que despertem no catequizando o desejo de participar. Bem diferente de uma aula, a catequese hoje realiza encontros dinâmicos, que sejam atrativos, que despertem o desejo de participar. Assim, o catequizando vai frequentar os encontros não por obrigação ou por interesse de receber algum sacramento, mas pelo prazer de participar, de fazer seu encontro com Deus e com os irmão de fé.


Solange Maria do Carmo

Biblista e professora de Catequética na PUC-Minas

01.10.2013