A canção popular de Ivans Lins nos incentiva a construir com coragem e ânimo um novo tempo. Todo tempo novo traz desafios novos e, com essas novidades, vêm perigos, riscos, ameaças e também conquistas, alegrias, realizações... Não cansamos de ouvir sem cessar vozes diversas que insistem que nossos tempos são diferentes dos antigos. E nem precisaria de gente importante, estudada, cheia dos títulos dizendo isso para nos convencermos de que vivemos um momento novo da história. É só reparar o dia-a-dia: são tantas mudanças que chegamos a falar não mais em época de mudança, mas em mudança de época. Ou seja, desponta no horizonte humano um novo tempo, tão diferente do tempo vivido até agora, que chegamos a ficar desarmados diante dele.


Quanta mudança! E não são apenas mudanças de hábitos, de comportamentos, de gostos, de interesses... Essa reviravolta mais visível é fácil de perceber, de pontuar até. Notamos sem grandes esforços a mudança de interesse de nossas crianças se deslocando das brincadeiras de roda para os jogos no videogame, para o mundo virtual do computador. Ou ainda a mudança de hábitos das famílias, que antes rezavam o terço no fim do dia em torno da imagem da Virgem Maria e agora os familiares que nem sequer se reúnem uma hora do dia, pois cada um trabalha, estuda e se agita atrás de seus interesses, sem hora para chegar em casa. São mudanças bem mais profundas do que essas: elas dizem respeito ao modo de entender a vida e de se posicionar diante dela, de entender as relações humanas e de construí-las, de entender a gente mesmo e fazer investimentos em nós. São valores antigos e já cristalizados que são transformados: alguns são abandonados, outros afloram com força no panorama social. Vejamos: Há alguns anos atrás, a preocupação ecológica não se encontrava entre nossas prioridades, a defesa do direito das minorias não fazia parte do rol de nossas lutas diárias. A vida se organizava de outro jeito; a família tinha um único formato. Mas as coisas mudaram, nossos valores não são mais os mesmos...


E com a chegada de novos valores e novos sistemas de organização da vida – nem bons nem ruins, mas apenas diferentes –, a Igreja se vê desafiada a continuar a pregar o evangelho de Jesus e a anunciar que ele é força para viver. Ela se sente interpelada a dar o testemunho de que Jesus está vivo e continua atuante neste mundo, manifestando seu amor e sua presença bondosa junto de nós.  A Igreja sabe que um tempo ou época não é melhor que outro. Em todo momento, em toda cultura, em todo espaço da história, Deus age, manifesta seu amor misericordioso a todos os seus filhos queridos. Deus não para de nos amar porque agimos diferente de antes, gostamos de coisas diferente, pensamos diferente. Deus ama infintamente cada um de nós e por isso mesmo não podemos parar de testemunhar esse amor. Mas como fazê-lo agora que o mundo mudou? A Igreja tem consciência também que não é possível em tempos novos, continuar com discursos antigos, com explicações teológicas que caducaram no tempo, com práticas piedosas e devocionais que não atrem mais nossa gente, com argumentos e práticas  religiosas que não encontram mais pertinência no chão da nossa vida. Então, é hora de mudança também na Igreja.


As mudanças que a Igreja vem fazendo e precisa fazer dizem respeito às suas diversas áreas: área teológica, moral, litúrgica, pastoral e outras. A necessidade de atualização se alastra por todos os cantinhos da fé cristã, não deixando imune nenhuma delas. Interessa-nos, porém, nesta série de artigos que preparamos, falar da mudança catequética. Quem trabalha nesta pastoral, quem faz catequese ou tem seus filhos na catequese da paróquia precisa sentir essa mudança. Mudança geral: no material que a catequese adota, na teologia veiculada a esse material, na didática dos encontros, no processo catequético como tal, na recepção dos sacramentos, na organização das turmas e em muitas outras coisas. E a mudança maior precisa ser esta: a catequese vai deixar de ser mera preparação para os sacramentos e será uma caminhada de discipulado, uma catequese permanente. A criança entra na catequese não mais para fazer primeira comunhão ou crismar, mas para conhecer Jesus e se tornar seu amigo, seu discípulo. A primeira comunhão e a crisma serão uma consequência dessa caminhada, um marco importante nesta jornada de seguimento. Os pais e catequistas vão gostar das mudanças, pois a paróquia vai acompanhar o processo mais de perto ainda e isso vai dar segurança no percurso. As crianças vão amar o dinamismo dos encontros e a linguagem sólida, ao mesmo tempo, de fácil compreensão. Muita brincadeira, muita música, muita alegria vão ser a marca dos encontros. Nada de aula de catecismo; agora teremos encontros de catequese. Para um novo tempo, uma nova catequese.


Nos próximos números, continuaremos nosso papo sobre esse assunto. 

 

Solange Maria do Carmo

Professora de Sagrada Escritura e Catequética na PUC-Minas.

05.09.2013