O livro de Deuteronômio é o livro indicado para ser lido e refletido para a celebração do mês da bíblia. Deuteronômio que significa “segunda Lei” vai nos lembrar do grande amor de Deus por nós, insiste na fé em Deus que é bom e generoso em seus dons, fiel às suas promessas e zeloso na exigência de fidelidade total e de amor exclusivo. Um amor que nos precede, nos antecipa, pois ele amou primeiro.

Esse Deus que faz a Aliança com povo eleito, às portas da terra prometida, é o mesmo Deus que libertou o povo da escravidão do Egito, um  Deus que o tempo todo cuidou do seu povo, no caminhar do deserto e agora, ao entregar a terra prometida, uma terra boa, que emana leite e mel, uma terra que é dom de Deus, nela Israel pode realizar sua vocação de povo eleito cumprindo assim sua parte na Aliança, sendo fiel aos mandamentos. Deus tem o compromisso de continuar ser o Deus do povo eleito.

A fidelidade do Senhor é constante e mesmo com a infidelidade do povo, Deus não os abandonará.  Um Deus sempre ativo e atual

Amar é uma arte, e pode ser melhorada. Um amor que cuida, cura e faz bem.

Deus sempre expressou seu amor ao povo. O povo de Israel fez grandes experiências desse amor em meios aos conflitos da caminhada e soube expressá-lo, fazendo chegar até nós.

A aliança que Deus fez com seu povo foi uma expressão de amor “Sereis o meu povo e ei serei o vosso Deus”. Uma aliança que significa uma relação entre Deus e o povo, uma relação DE conteúdos que favorecem a vida de Israel.  Essa aliança é produzida por meios de leis que indicam responsabilidades entre dois interlocutores (Deus e o povo de Israel) que assinam um contrato, ou seja uma proposta que se dá por um ato de amor:  Da parte de Deus, ele se compromete com a vida de Israel, uma vida de liberdade. Da parte do povo, que ele viva de forma concreta a sua parte na Aliança  se comprometendo com a obediência à lei, uma lei que não significa um legalismo, mas a vivência do amor, promovendo a justiça, pois cumprir os mandamentos de amar a Deus e ser fiel a ele são garantias de liberdade.

Viver esse amor é determinar uma melhor convivência com relação a Deus e os outros povos, recebendo a terra prometida como dom de Deus sabendo que a sua permanência na terra será fruto do cumprimento da fidelidade a Deus. Podemos ver o diz Dt 26-16-17, quanto a dinâmica da sua relação com Deus:

“Hoje o Senhor teu Deus te ordena cumprir esses estatutos e normas. Cuidarás em pô-los em prática com todo o teu coração e com toda a tua alma. Hoje fizeste o Senhor Deus declarar que ele seria o teu Deus, e que tu andarias em seus caminhos, observando seus estatutos, seus mandamentos e suas normas, obedecendo à sua voz. E Hoje o Senhor teu Deus te fez declarar que tu serias o seu povo próprio, conforme te falou, e que observaria todos os seus mandamentos; que ele te faria superior em honra, fama e glória a todas as nações que ele fez, e tu serias um povo consagrado ao Senhor teu Deus, conforme ele te falou”.

Essa citação bíblica do livro do Deuteronômio se refere ao final do discurso de Moisés ao povo, junto à porta de entrada da terra prometida. O importante desse texto para nós é justamente a utilização do “hoje” que tem como finalidade nos recordar que a Aliança que Deus fez outrora sobre a promessa da terra que emana leite e mel a Abraão e a promessa de libertação do povo da escravidão do Egito feita a Moisés, permanece atual e presente na vida de toda Israel e presente na nossa vida, nos nossos dias. Essas promessas é Palavra de Deus que fala para nós hoje”. Palavras que contém um amor infinito e incondicional. Podemos ver em Dt 7, 7-8 que diz: Se o Senhor teu Deus se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos, pelo contrário: sóis o menor dentre os povos! E sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou a vossos pais. … O Senhor teu Deus é um Deus fiel, que mantém a Aliança e o amor por mil gerações, em favor daqueles que o amam e observam os seus mandamentos.

Esse é o amor incondicional de Deus. Ele que toma a iniciativa, cuida de todos e é sempre fiel.

Recordar quer significar para nós “retornar ao coração”

Ao nos recordar do amor de Deus e a sua fidelidade no cumprimento da Aliança, o que podemos observar nos eventos e acontecimentos da histórica salvífica e na vida diária, é que somos provocados a viver e responder a esse amor com nossas ações éticas e sociais.

Somos chamados a fazer escolhas. Ouvimos os mandamentos ordenados por Deus: amar a Deus, andar em seus caminhos e observar seus mandamentos, seus estatutos e suas normas. Se assim o fizemos, seremos abençoados por Deus na terra que habitamos.

Vamos descobrir na bíblia o que o texto bíblico nos diz. Leiamos a citação de Dt 30, 15-20. Esta citação vai nos faze recordar imagens vivas que carregamos conosco no dia-a-dia. É a imagem dos dois caminhos. No primeiro caminho encontramos diante de nós a vida e a felicidade, no outro a morte e a infelicidade.

Moisés, ao falar dos mandamentos de Deus para o povo que se encontrava às portas da entrada na terra prometida ele repete as palavras de Deus dizendo: “O mandamento que te ordeno hoje não é difícil para ti, nem está fora de teu alcance. Ele não está no céu para que digas: Quem poderá subir ao céu para que o alcance e nos faça ouvir, para o praticarmos? Não está do outro lado do mar para que digas: Quem atravessará o mar para nós, para que o alcance e nos faça ouvir, para o praticarmos? Pois esta Palavra está bem perto de ti, está em tua boca e em teu coração, para que a ponhas em prática. Assim, Moisés apresenta a Palavra de Deus ao povo e pede a eles que escolha, pois, a vida, para que vivam, eles e sua descendência, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvido à sua voz.

Essa Aliança de Deus com seu povo chega até o tempo de Cristo. Jesus cita várias passagens do Deuteronômio. Podemos ver em Mt 4,4-11 como Jesus, utilizando-se dos ensinamentos do Dt ele rebate todas as investidas do diabo quando é provocado por ele, no deserto:  Em Mt 4,4 com Dt 8,3: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.  Em Mt 4,7 com Dt 6,16 – “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Mt 4,10 com Dt 6,13 – “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestará culto”.  Jesus também fala de como apresentar a Deus o maior/primeiro mandamento (Mt22, 35-39 e Mc 12, 28-34).

Com Jesus a lei do amor de Deus chega até nós. A ação divina na história continua e será sempre lembrada para que o fiel não se esqueça que Deus ama, mas com um amor exigente, amor de Aliança, de relação onde as duas partes se encontram envolvidas. Um amor que exige estar sempre atentos ao irmão, ao órfão, à viúva e ao estrangeiro. Um amor de ordem moral e social na atualidade permanente do “hoje” de Deus. Um amor confiante que nos faz amar de todo coração, de toda alma e com toda a força do poder. Poder de possibilidades. Poder de partilhas.

Neuza Silveira de Souza

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte