A leitura da Bíblia foi possibilitada a todos os fiéis a partir do Concílio Vaticano II. Voltando às fontes, na antiga tradição da Igreja apostólica e patrística, o Concílio exorta todas as pessoas a uma leitura e interpretação das Sagradas Escrituras, no mesmo Espírito em que foram escritas para apreender com exatidão o sentido dos seus textos (DV 12).

Quando lemos a Bíblia realizamos uma leitura a dois: Deus nos fala e nós escutamos e respondemos. Deus dialoga conosco e ao respondermos a ele estamos criando uma relação Interespiritual, profunda e verdadeira entre nós. “Eu e Ele”; “Tu e Ele” Esta conversa com Deus é a melhor forma de diálogo, porque Deus se revela e se compromete com amor de Pai, proporcionando um grande encontro com aquele que fala. A Bíblia é esse lugar de encontro. E a voz da Palavra, a revelação, é a voz de Deus que ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma voz que desce às páginas das Sagradas Escrituras, que agora lemos à Luz do Espírito Santo. Deus não está indiferente aos acontecimentos da vida do ser humano: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo… Ouvi o seu clamor… pois eu conheço as suas angustias” (Ex 3,7), disse Deus a Moisés.

Ao lermos a Bíblia, ela que é fonte de vida, devemos fazê-lo, não buscando um conhecimento intelectual, mas um conhecimento vital. Nela procuramos encontrar o Senhor, lemo-la para encontrar em suas palavras humanas – texto sagrado que é – a palavra de Deus que constrói a fé, pois Jesus é o verdadeiro intérprete de toda realidade divina, ou seja, ele é aquele que explica o sentido e torna visível a ação de Deus na nossa história de vida. A leitura da Palavra de Deus nos conduz a uma fé obediente, uma fé confiança, adesão, amor que abraça toda a vida. É experiência de Deus.

Aprendi com um amigo meu que gosta de analisar o significado da letra escrita. Olhando para a formação da ‘Palavra’, em sua Etimologia, podemos dividi-la em: “pa-lavra”.

a) PÁ = instrumento de trabalho com a terra. Sua função é juntar, colher, transportar.
LAVRA = ação de lavrar (imprimir profundamente; inscrever, gravar, cultivar a terra), ou ainda: local de onde extrai pedras preciosas.
Assim sendo, PA-LAVRA é um instrumento da linguagem humana usada para cultivar, em profundidade, o CORAÇÃO humano. Como o homem do campo trabalha na terra retirando dela os seus frutos, assim é a palavra cotidiana na vida do ser humano.

Uma forma de tornar a Bíblia mais conhecida e, ao mesmo tempo, de melhor conhecer as Sagradas Escrituras, é estar sempre atento aos desafios dos novos movimentos religiosos que instrumentalizam a Palavra de Deus, cuidar do ministério dos catequistas, formar-se, instruir-se, viver a Palavra e dar testemunho. Levar também a Palavra aos não cristãos, aprender a dialogar com outras religiões criar relação com as diferentes culturas, é importante nesse processo. Tudo isso tem reflexos principalmente nas atividades pedagógicas da fé, sobretudo na catequese, por ser um período de ensinamento e maturidade, de reflexão vital sobre o mistério de Cristo. Influencia significativamente a iniciação integral e vital, ordenada e sistemática na Revelação que o próprio Deus fez ao homem em Jesus Cristo, que não está isolada da vida nem justaposta artificialmente a ela, e conservada na memória profunda da Tradição viva da Igreja.

É a partir de uma autêntica catequese renovada, atualizada, uma catequese de Inspiração catecumenal, que a Igreja pode deslocar solidamente toda a amplitude de elementos e funções de sua ação evangelizadora. Assim, é necessário que a catequese, como obra evangelizadora da Igreja, encontre seus fundamentos na natureza da revelação cristã e na Tradição viva da Igreja tal como esta se expressa na Constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II.

A leitura da Bíblia é prática da Igreja

A Bíblia, nascida da experiência de vida da comunidade primitiva, ela só se compreende na comunidade. O lugar da ação, mediante o qual Deus se revela e dá a inteligência da palavra, é a Igreja. O fiel, parte viva da comunidade, recebe da Bíblia sua vida espiritual e vive em unidade com as realidades históricas da Palavra de Deus.

Olhando para o início da Bíblia temos o Antigo Testamento que, para responder às exigências do homem de hoje, ele já começa falando do desejo e da busca de Deus. Traz uma noção clara de Deus, mas é no Novo Testamento que vamos encontrar ensinamentos surpreendentes sobre a paternidade e a misericórdia de Deus. Em algumas parábolas e, sobretudo na morte e ressurreição de Jesus revelam-se misteriosos aspectos do amor, da sabedoria e do poder de Deus.

“Ninguém conhece o Pai” (Mt 11,27); “Ninguém jamais viu Deus” (Jo 6,46). Jesus é o revelador do Pai, isto é, aquele que o faz conhecido. “Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo” (Mt 11,27). “Aquele que crê em mim não crê em mim, mas naquele que me enviou; e aquele que me vê vê aquele que me enviou” (Jo 12,44-45). Ensinamentos como esses são encontrados no Novo Testamento e vem demonstrar como são misteriosos a sabedoria e poder de Deus. Jesus Cristo é que nos revela o agir de Deus que é diferente do agir do Homem. Á luz da Bíblia, toda autoridade foi dada a Jesus Cristo no céu e sobre a terra (cf. Mt 28,28), é nele que habita, em forma corporal, toda a plenitude da divindade (cf. Cl 2,9), e onde foram criadas todas as coisas (cf. Jo 1,1-4; Cl 1,16; Há 1,1-3).

O convite para iniciarmos a nossa catequese com o querigma traz consigo esse sentido: de, primeiramente, conhecer a Jesus que vai nos levar ao conhecimento do amor do Pai. O querígma ocupa o primeiro lugar na iniciação cristã como anúncio da fé pascal. Falar sobre ele é falar da ‘Proclamação da Palavra’; O primeiro anúncio é interpelante. Ele oferece a porta de entrada da experiência cristã. E como crerão se ninguém proclamar?

Neusa Silveira de Souza

Comissão para animação bíblico-catequética do regional Leste 2