Nuvem

Carolina Deslandes

 

Tinhas as mãos enrugadas e cheias de histórias
A roupa lavada e vem-me à memória
Como me embalavas depois de jantar

Tinhas o rosto sereno, calmo e sempre vivo
E o meu corpo pequeno, mas tão emotivo
Não te sabe lembrar sem chorar

Eras da minha alma, da minha casa
Eu era tua costela
Dormia na tua sala, na tua asa
Quente como a chama de uma vela

E agora não te tenho, só te lembro
E gosto de te cantar
Guarda um cantinho da tua nuvem
Para um dia eu lá morar

Tinhas um corpo de lar
E um cheiro a infância
Os olhos de mar, e hoje à distância
Se fechar os olhos ainda lá estou

E deitada no teu colo
O mundo era meu
Só me resta o consolo
De que aí no céu
Exista uma nuvem com nome de avô

Eras da minha alma, da minha casa
Eu era tua costela
Dormia na tua sala, na tua asa
Quente como a chama de uma vela

E agora não te tenho, só te lembro
E gosto de te cantar
Guarda um cantinho da tua nuvem
Para um dia eu lá morar

Há um sítio lá ao pé do sol
Onde eu te vou encontrar
Há um sítio lá ao pé do sol
Onde eu te vou encontrar

Eras da minha alma, da minha casa
Eu era tua costela
Dormia na tua sala, na tua asa
Quente como a chama de uma vela

E agora não te tenho, só te lembro
E gosto de te cantar
Guarda um cantinho da tua nuvem
Para um dia eu lá morar

A música parece que embala a saudade de avô e avó. Também embala a saudade de pessoas que na vida da gente foram avôs e avós pois nos deram seu colo nos momentos em que mais precisávamos.

Pra tentar nomear a inominável saudade só a música e a poesia pra expressar o amor e dor por quem amamos e perdemos. 

E a vontade é ouvir a música sem parar, repetidamente, pra tentar acalmar a dor da ausência... A dor também precisa ser "embalada" no nosso colo pra darmos sentido a ela.

Lucimara Trevizan

07.06.22