Parabolicamará

Gilberto Gil

Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena
Parabolicamará

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

Antes longe era distante
Perto só quando dava
Quando muito ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes
dendê em casa camará

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação

Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia
Que o balaio ía escorregar

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau
Meu camará

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação

De avião o tempo de uma saudade

Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino
Apresentar

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

 

"Ê volta do mundo, camará": Hoje Gilberto Gil foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Um poeta da música, um encantador de gente. 

"Esse tempo não tem rédea, Vem nas asas do vento", outro trecho dessa música tão linda. A parabólica como metáfora dessa aceleração da vida, do tempo, do mundo. E ao mesmo tempo o mundo sempre "deu voltas", a vida sempre continua, o mundo está a girar... 

Equipe do site

11.11.21