Travessia

Milton Nascimento

Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, Muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, Já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver.
 

 

Somos seres de travessia. E, na travessia da vida buscamos significados e sentidos para viver. 

As perdas são inevitáveis. Algumas delas nos tiram o chão, nos deixam "perdidos", carecendo de sentido, de sentir o gosto e o sabor que a vida tem.

É na travessia que vamos dando novo significado as perdas e perdendo o medo de amar e viver.

 

"Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dápas encheram o outono." (Pablo Neruda)

 

Marcelle Durães

Equipe do site