Quando pensamos em nós, nas categorias profundas da nossa vida, o medo é talvez uma das coisas mais antigas, fortes e ambíguas que cada um de nós carrega. E mesmo na nossa relação com Deus, o medo, infelizmente, acaba por estar tão presente.
 
Nós que estamos aqui, por que estamos aqui? Eu não digo que seja por medo (talvez mesmo numa visão pacificada, positiva, confiante com Deus). O fantasma do medo está sempre presente. Temos medo de que Deus nos castigue, temos medo de que isto não seja suficiente, temos medo de não estar fazendo as coisas corretamente. Temos medo, temos medo.
E é tão importante ouvirmos a palavra de Jesus que nos diz: “Sou eu. Não tenhais medo” (Jo 6, 20). Aquele que vem revelar o Amor, a confiança.
 
Mas para isso acontecer, uma transformação na nossa vida é necessária, não é de um momento para o outro, é o nosso caminho de vida cristã. Em vez de medo e de pensar a nossa relação com Deus, nossa relação com os outros, nossa relação em sociedade, nossa relação conosco mesmos, em chave de medo, como tantas vezes pensamos, devemos pensá-la em chave de Amor. Esta é a grande transformação que Jesus nos vem trazer. Ele hoje fala-nos do Amor e apresenta-nos com uma presença fiel. E aqui me recordo tantas vezes de Sua Santidade, hoje Santo, Papa João Paulo II, dizendo: “Non abbiate paura”, ou seja, “Não tenhais medo”. Ouça!
 
Por isso, coloquemos nosso olhar em Jesus. Faça Dele o Mestre da tua vida, o Mestre de todas as horas, Aquele que te revela ao Pai, Aquele que te conduz, na barca da vida, a cada momento ao Pai e te dá esta certeza de que não é o medo o companheiro da nossa vida mas sim a confiança, o Amor, e que isso seja a alavanca necessária a cada momento para nos levantarmos do peso das coisas e vivermos como ressuscitados.
 
— Cardeal D. José Tolentino Mendonça (homilia).
14.04.2024