“...e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27) 

O mundo no qual vivemos, feito de códigos e números, de tecnologia e de anonimato, de frios cálculos e de robots telecomandados..., conduz a uma vida em contínua aceleração; isso faz com que todos adoeçam de ativismo, de competição, de eficientismo; o excesso informações tira o sabor das coisas, instaura uma cultura que não flexibiliza a vida interior e o recolhimento, não cultiva afetos, emoções e sentimentos.

Tal como Marta, “andamos inquietos e perturbados com muitas coisas; mas uma só é necessária” (Lc. 10.41). Precisamos nos conceder espaços de calma para provar a verdade, contemplar a beleza, saborear os inestimáveis valores presentes na gratuidade e no dom desinteressado, alimentar-nos de valores humanos e cristãos que, impregnados de futuro, tornam bela a vida de hoje. 

Os tempos e os ritmos de vida mudaram muito. Nós estamos muito distantes da quietude e da calma do mundo rural; hoje predomina a eficácia, a pressa, a ansiedade. A eficácia sempre tem pressa. Mas as coisas da vida requerem tempo, calma e sabedoria.

Os evangelhos estão cheios de referência à vida. As sementes também nos falam de vida. Um grão de trigo, um grão de mostarda são sementes humildes, pequenas, mas cheias de vida. A vida da semente é calada, silenciosa, paciente: vai crescendo pouco a pouco, desenvolvendo toda sua vitalidade.

A vitalidade da semente não depende do trabalho e dos esforços humanos; ela está cheia de vida em si mesma. As sementes, as plantas, as árvores não crescem de uma vez só, nem com saltos espetaculares, mas pouco a pouco, humildemente.

O agricultor não escava desesperado a terra, forçando o crescimento da semente que ali deixou, mas distancia-se dela sabendo que há um tempo necessário de separação para que a planta, no seu ritmo, possa nascer e crescer. Toda semeadura supõe que é preciso saber esperar (esperança) com calma e paciência.

Não podemos ter urgências morais, nem precipitações nas mudanças pessoais, sociais, pastorais..., porque pode nos invadir a ansiedade e esta pode gerar medo, angústia..., pois pretendemos solucionar as coisas com uma insaciável pressa e avidez. 

O ser humano pós-moderno está perdendo o contato com o cosmos, com o chão, com os animais, com a natureza... e isto provoca-lhe todo tipo de mal-estar, de doenças, de insegurança e de ansiedade.

Prestemos atenção aos diferentes ritmos na sinfonia da vida. A natureza tem seus ritmos: o do dia e o da noite, as quatro estações, o crescer das espigas, o canto dos pássaros, o transcurso de um rio... Nossa vida tem os seus ritmos e somos chamados a distingui-los: se uma mulher está grávida, viverá um ritmo; se alguém está enfermo, descobrirá outro ritmo diferente; quem vive um luto por uma separação ou por uma morte, terá outro ritmo...; a amizade, o estudo, o trabalho... marcam ritmos diferenciados. Não se pode comparar o ritmo de uma criança com o do ancião, ou do adolescente com o ritmo do adulto. É diferente o ritmo do Sul e do Norte, o ritmo de cada povo.... 

Quando forçamos o tempo biológico para apressar demais o passo e antecipar recursos para uso imediato, o gasto de energia envolvido na operação pode arruinar a nossa própria vida.

Há um defeito na atividade que costuma tirar de nós a riqueza espiritual e convertê-la num “ativismo insensato”, sem vida interior e sem criatividade. Trata-se da ansiedade.

O nosso “eu profundo” é ferido por um permanente estado de alerta, exigências de obrigações pendentes e expectativas à espreita. Estamos perdendo aquela paz essencial nas profundezas do nosso ser, aquele repouso sem preço na qual os elementos mais delicados da vida se renovam e se confortam.

As demandas, a tensão, a pressa da existência moderna, perturbam a destroem esse precioso repouso.

Este “nervosismo” chamado ansiedade é uma espécie de pressa interior permanente. Sentimos uma necessidade imperiosa de resolver rapidamente todos os problemas, como se todas as coisas fossem urgentes ou indispensáveis. É um problema relacionado com o tempo.

Tratamos a vida com a mesma ansiedade que se abate sobre nós nos cinzentos corredores de espera, nas filas administrativas, nos engarrafamentos do trânsito. Tornamo-nos viciados em assuntos rapidamente fechados, incapazes de acolher o surpreendente “novo” que o sabor da vida insistentemente propõe.

Sabemos que, quando há ansiedade, há desordem. Como a mente está cheia de projetos e vive antecipando-se às coisas, nessa multidão de pensamentos reina uma grande confusão, e nada é bem-feito.

Além disso, a ansiedade nos torna superficiais, porque nos leva a passar rapidamente de uma atividade a outra, sem nos aprofundarmos em nada. O coração ansioso não é capaz de deter-se em coisa alguma. Não suporta a quietude. E assim não pode apreciar o sabor mais agradável das coisas.

Há no evangelho deste domingo um chamado dirigido a todos e que consiste em plantar pequenas sementes de uma nova humanidade e de uma nova inspiração no cotidiano de nossas vidas. Jesus não fala de coisas grandes. O Reino de Deus é um dinamismo muito humilde e modesto em suas origens. Presença que pode passar tão desapercebido como a menor semente, mas que é chamada a crescer e frutificar de maneira inesperada.

É bom envolver-nos nas atividades cotidianas e tirar maior proveito delas. Mas, às vezes, a ansiedade nos leva a sermos demasiadamente dependentes dos resultados do trabalho. Queremos ver rapidamente os frutos de nosso esforço. E assim escapa-nos o prazer de podermos agir com serenidade e paz.

É necessário saber planejar e prevenir, mas sem pretender prever e controlar tudo. É uma grande sabedoria saber desfrutar das pequenas coisas que temos ou que podemos fazer agora, sem pensar nas que não temos. Na ansiedade por querer conseguir certas coisas e abarcar tudo, acabamos criando dependências egocentradas e a vida vai se acabando sem ser vivida.

Então, nossa ação deixa de ser fonte de satisfação e plenitude. Por isso terminamos nos enfraquecendo, enchendo-nos de angústias inúteis e esquecendo-nos que “com a divina consolação todos os trabalhos são prazer e todas as fadigas são descanso” (Carta de S. Inácio a Teresa Rejadel).

A familiaridade com Deus na relação com todas as coisas do cotidiano, não implica fadiga ou ansiedade, senão que é uma maneira de viver aquela paz e plenitude considerada como verdadeiro descanso.

Toda atividade humana, perpassada por uma “espiritualidade” inspiradora, deve ser motivada, antes de tudo, pela força interior do amor, que lhe dá uma qualidade, um sentido e um valor particulares.

O desafio é buscar maneiras de encontrar a serenidade em meio às nossas frenéticas vidas, de abrir em profundidade nossa cotidianidade para poder nos submergir no ritmo tranquilo de Deus; encontrar-nos com Ele para que seja o centro de nossa vida e caminhar a seu lado. Oxalá sejamos capazes de captar os detalhes da paisagem de nossa vida para descobrir em tudo as pegadas do Senhor! E, embora vivamos neste mundo onde tudo se move tão rápido, podemos fechar os olhos e sentir que Ele nos conduz pela sua mão.

Textos bíblicos:  Mc 4,26-34 

Na oração: Tente escutar o universo infinito; acima, abaixo, ao seu redor. Entre em profundo silêncio para perceber a vibração de todos os elementos: terra, ar, água, fogo. Tudo vibra, tudo está cheio de ondas luminosas, sonoras. Tudo  é silêncio e tudo é escuta. Sinta-se presente no meio deste diálogo entre céu e terra... para escutar, falar e orar.

- Seu ritmo cotidiano é marcado pela ansiedade, pressa, estresse...? Há espaço para o silêncio, a contemplação?

- A partir do silêncio do seu coração, plante no seu cotidiano, sementes de humanidade: proximidade, acolhida, compaixão, paciência, paz...

Pe. Adroaldo Palaoro sj

11.06.2021

Imagem: Albin Egger Lienz