Ver com o coração
Hoje, em muitos países, celebra-se a ascensão de Jesus [em Portugal e no Brasil será no próximo domingo]. Como se lê no livro dos Atos dos Apóstolos, chega o momento em que Jesus nos é subtraído ao olhar, e uma espécie de nuvem oculta agora a sua visão.
Os discípulos terão ade aprender uma coisa que até então não sabiam, e que consiste em viver a presença de Jesus na sua ausência. Viver em Jesus sem o ver, sem o encontrar no espaço físico e quotidiano do mundo.
Isto não significa que perderam Jesus. A Igreja com a Páscoa não perdeu Jesus. Reencontramo-lo numa outra forma, e podemos reconhecer as novas modalidades da sua presença no meio de nós. Por isso é tão importante aquilo que S. Paulo diz: «Deus ilumine os olhos do vosso coração, para voz fazer compreender a que esperança vos chamou» (Efésios 1,18).
Precisamos dos olhos do coração para compreender a qualidade e a extensão da presença de Cristo na história. Mas penso também naquele detalhe que o Evangelho de Mateus (28,17) regista: no momento final da ascensão, alguns discípulos ainda duvidaram.
Todavia, é curioso que essa dúvida não constitua um problema para Jesus. Ele investe os discípulos na missão, mesmo da dúvida. Jesus não disse que aquela missão era apenas para aqueles que acreditaram solidamente.
Jesus confia a missão a todos. As dúvidas e as dificuldades do caminho fazem parte da condição crente.
D. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Imagem: "Ascensão" (det.) | Rembrandt
Publicado em 30.05.2019 no SNPC