A trajetória do crente é acompanhada pela experiência do “não saber”. Muitas vezes consideramos a ignorância um obstáculo intransponível para a fé, mas quando lemos as narrativas pascais colhemos que ela é parte integrante do ato de crer.
É precisamente este “não saber” que nos abre a porta a uma outra compreensão. Maria de Magdala constatou que Jesus não estava no sepulcro; mas aquilo que tinha acontecido, ainda não o sabia. E foi contar a novidade a Pedro e João, que correram e entraram dentro do sepulcro.
A primeira lição és esta: temos de nos imergir no sentido da morte de Jesus, se queremos entender o sentido da sua ressurreição. Temos, também nós, de entrar no sepulcro, seguindo Pedro e João, e como eles interrogarmo-nos: que morte é, aquela foi apertada nestas ligaduras? Porque morreu aquele Jesus que depois foi envolvido neste sudário, agora vazio? Em nome de quê ofereceu Ele a sua vida?
A segunda lição é depois esta: normalmente, nós vemos para crer – é a maneira mais comum de interagir com a realidade. O Ressuscitado, ao contrário, ensina-nos que só acreditando podemos ver; só aceitando não tocar o corpo do Ressuscitado podemos tocá-lo; só acolhendo o mistério e a distância podemos viver verdadeiramente a intimidade pascal.
Quem crê saberá interpretar o mistério da sua presença todos os dias, até ao fim dos tempos.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.04.2019 no SNPC