Hoje há consenso sobre o fato de que os Evangelhos começaram a ser redigidos a partir do relato da Paixão; e que antes de serem constituídos na forma a que chegaram, já existia, como seu embrião, a narrativa da Paixão.
Por isso, quando os primeiros cristãos se reuniam, era para recordar a Paixão do Senhor. Ela é, efetivamente, o núcleo vital de tudo o que diz respeito a Jesus. E é a história que nos funda como cristãos, que nos confere a identidade, que nos faz ser.
Quer estejamos ou não conscientes, nós, cristãos, somos uma consequência da Paixão de Cristo. Disponhamos por isso o nosso coração a acolhê-la uma vez mais.
Pode dar-se o caso de nunca estarmos verdadeiramente confrontados com ela. Talvez nunca a tenhamos ainda considerado uma história especialmente dirigida a cada um de nós.
A Paixão de Jesus atesta a verdade fundamental do seu amor, que não é abstrato ou sem destinatário. É um amor real, que podemos experimentar sempre.
Jesus vive a sua Paixão como um ato de compaixão sem medida a nosso favor. Jesus abraça a nossa condição, a nossa inconsistência, abraça aquilo que em nós nos agrada e que não nos agrada, abraça aquilo que nos entristece ter acontecido ou simplesmente não ter acontecido.
Jesus aceita ser provado em tudo para abraçar tudo em nós: «Eu estive sempre ao vosso lado, nunca estive longe de vós, nunca alguma coisa vos separou do meu amor»
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins no SNPC 14.04.2019