Um ramo sairá do tronco... brotará das raízes. Assim profetiza Isaías (11, 1).

Talvez o profeta fizesse alusão à videira. De folhagens e frutos frágeis, possui raízes e troncos fortes, de tal modo que, mesmo depois de uma queimada ou de uma devastação, é possível recuperar sua matriz vital. Após a catástrofe do povo, Deus ainda suscitará o Messias de suas raízes. Jesus é o fruto bendito do Espírito de Deus que germina e dá vida nova às raízes feridas da humanidade. Do germe da fé, virá o Salvador. Daquele silêncio divino e da indiferença humana, o Verbo... Para o profeta, o Messias não será um novo Davi, mas anterior a ele mesmo, do pai de todos os reis, de Jessé brotará a mais íntima e virginal esperança do Povo de Deus... Maria será a fé mais virginal encontrada por Deus para brotar o seu e o nosso Messias. O ramo da vida é brotado do ventre de Maria. Da súplica do ventre de Maria, da profundidade do crer humano, a Palavra encarnada.

Tempo de iluminar o céu...

Na fragilidade do ramo, a grandeza do tronco e a força das raízes, de Deus. Do alto da cruz, como no madeiro da manjedoura, o mesmo corpo nu, frágil e despojado de tudo. O corpo delicado, como novo ramo do tronco ferido e maltratado pela violência humana, torna-se o próprio corpo Dele, a Igreja. O corpo que se tornou o madeiro... do tronco fincado no calvário, sem sopro, sem luz, dilacerado para não mais viver... nasce a vitalidade do novo Povo de Deus. A menor dentre todas as hortaliças, que faz abrigo para os pássaros... para os passantes do caminho rumo ao céu. Que lança seus ramos pela extensão do mundo. Celebrar o Advento é sempre retornar às raízes mais íntimas da fé e do amor, às raízes de Deus em nós, entrelaçadas em nossa história humana...

Do pavio que se apagou, da impossibilidade do crer humano, ressurge a fé de Deus que ilumina a humanidade com a sua Luz... O jeito de Deus é eternamente o mesmo: ressurgir do caos, a vida; do crucificado, o Ressuscitado; do fracasso, a misericórdia salvadora; da vela que se gastou, o vigor da chama... Para tanto, é possível e urgente também hoje crer!

Advento é o tempo da espera de Maria, a mais prudente dentre todas as virgens. É o tempo de nossa espera. Também é o tempo da perturbação: como será isso se não conheço homem algum? Não conhecer homem algum é também a nossa inquietude: como se concretizará hoje o projeto salvífico de Deus, se ainda nos falta humanidade? No entanto, Advento é a meditação silenciosa da vontade de Deus. E do fruto da resposta: Emanuel. Advento é quando o céu sente a temporalidade da terra, à espera da resposta de Maria, após o anúncio do anjo. E é a resposta de Maria, o seu amém, matéria de sua vontade e de sua adesão que permitem a encarnação, a matéria da Revelação plena de Deus: o Verbo se fez carne. 

É o tempo do silêncio

O frágil barro é revigorado no sopro de seu oleiro. No sopro de seu criador. Daquele não entender humano, a perfeita sabedoria de Deus que nos surpreende quando a vida parece carecer de luz e transparência. Ele vem clemente para congregar os que se encontram na ofensiva... reunirá o que está disperso. O vaso é Maria. E, dentro dele, a graça de Deus. O vaso é a humanidade. Barro e sopro se reúnem. A história do homem terá sempre o ato de Deus.

É tempo de gerar o Natal, que só o é se brota como clamor das vísceras da pessoa humana. Só há natal verdadeiro se advir aquele grito das raízes do coração: Vem, Senhor Jesus. Há natal quando o ramo renasce do tronco machucado das profundas e extensas raízes de Deus, que abraça a terra humana. É o tempo do silêncio da carne, do silêncio da terra que escuta... tudo é silêncio até ecoar numa noite iluminada um choro de criança. Assim Deus fala ao mundo!

Advento é tempo de, aproveitando as chuvas veraneias da graça de Deus, enxertar de novo a fé em nossa carne. É o tempo do enxerto, tempo de ferir nossa temporalidade. O advento tem de ferir-nos... Uma ferida que chegue a nos incomodar, que nos interrogue, que procure em nós uma resposta: como será isso? Como brotará a flor desta carne ferida?

É tempo do Advento do silêncio de Zacarias. Da profecia que silencia, que aguarda a promessa. E do Advento de José. Do sonho de Deus gerado no coração do homem, da cultura, da história... É tempo do Advento dos magos do oriente: a procura da luz... Da busca de uma inteligibilidade para a fé. Jesus é a fé inteligível.  Não seja este o advento de Herodes, que disse também querer adorá-lo. Para este tipo, o Natal jamais chega, nunca atinge a profundidade existencial, não germina. 

É o nosso tempo no tempo de Deus

O advento é caminho para o Messias encarnado, morto e ressuscitado. É caminho para o Messias esperado... E este Messias vem ferir nossa humanidade, romper nossas raízes, afim de que, com o cheiro de pasto dos pastores e a melodia dos anjos, também proclamemos: Glória a Deus nas alturas...

Enquanto a esperança for queimada até no seu tronco e cortada até em suas raízes e crucificada sob o solo santo, como crer na nova humanidade? Por isso, clamamos aos céus que façam chover a justiça e brotar do madeiro ferido do Povo de Deus um tempo de paz... Que a humanidade, banhada pelas novas águas da misericórdia, neste tempo favorável, se renove na ternura do Menino Deus, na eterna novidade do broto das raízes de Jessé.

Pe. Gilvair Messias

Padre da Diocese de Guaxupé-MG e mestre em teologia.