Maria dará Cristo à luz em nós na medida em que nós formos sensíveis, como Cristo, por todos os necessitados deste mundo; na medida em que vivermos como aquele Cristo que se compadecia e se identificava com a desgraça alheia, que não podia contemplar uma aflição sem se comover, que deixava de comer ou de descansar, para poder atender a um doente, que não só se emocionava, mas também resolvia... A Mãe é aquela que deve ajudar-nos a encarnar esse Cristo vivo, sofrendo com os que sofrem, para que vivamos para os outros e não para nós mesmos.
Maria dará Cristo à luz em nós, na medida em que os pobres forem nossos prediletos; quando os pobres deste mundo forem atendidos com preferência, será sinal de que estamos na Igreja verdadeiramente messiânica; quando vivermos como Cristo, com as mãos e o coração abertos para os pobres, com uma simpatia visível por eles, partilhando a sua condição e solucionando a sua situação: na medida em que a nossa atividade for preferentemente, mas não exclusivamente, dedicada a eles, na medida em que chegarmos a eles com esperança e sem ressentimentos... Maria será verdadeiramente Mãe na medida em que nos ajudar a encarnar em nós, esse Cristo dos pobres.
Maria dará Cristo à luz em nós, na medida em que tratarmos de ser, como Cristo, humildes e pacientes; na medida em que refletirmos aquele estado de ânimo, de paz, domínio de si, fortaleza e serenidade; quando procedermos como Cristo diante dos juízes e dos acusadores, com silêncio, paciência e dignidade; quando soubermos perdoar como Ele perdoou; quando soubermos calar como Ele calou; quando não nos interessar o nosso próprio prestígio mas a glória do Pai e a felicidade dos irmãos; quando soubermos arriscar a nossa pele comportando-nos com valentia e audácia como Cristo; quando estiverem em jogo os interesses do Pai e dos irmãos; quando formos sinceros e verazes, como Cristo foi, diante de amigos e de inimigos, defendendo a verdade mesmo à custa da própria vida... Maria será verdadeiramente nossa Mãe, na medida em que nos ajudar a encarnar esse Cristo pobre e humilde.
Maria dará Cristo à luz em nós, na medida em que vivermos despreocupados de nós mesmos e preocupados com os outros, como Jesus, que nunca se preocupou consigo mesmo, com o tempo para comer, para dormir ou para descansar. Na medida em que formos como Cristo que se sacrificou sem queixas, sem lamentos, sem amarguras, sem ameaças, e, ao mesmo tempo, deu esperança e alento aos outros. Na medida em que amarmos como Cristo amou, inventando mil formas e maneiras para expressar esse amor, entregando a sua vida e o seu prestígio pelos seus «amigos»; se passarmos pela vida, como Jesus, «fazendo o bem a todos». Em que consiste a maternidade espiritual de Maria? Em que a Mãe nos ajuda a encarnar, gerar e dar à luz em nós, esse Cristo que amou até ao extremo.
Maria será para nós a verdadeira Mãe, se nos esforçarmos por ter a sua delicadeza fraterna: depois da anunciação, a Mãe vai rapidamente felicitar Isabel e ajudá-la nas tarefas domésticas dos dias pré-natais. Se copiarmos a sua delicadeza em Caná, atenta e preocupada por tudo, como se se tratasse da sua própria família; superdelicadeza a sua, na mesma cena, por não ter comentado com ninguém a falta de vinho, por não ter informado o anfitrião evitando um momento de rubor, e maior delicadeza ainda querendo ajeitar tudo sem que ninguém percebesse. Delicadeza também com o seu próprio Filho, por ter evitado, diante dos outros, uma impressão de situação de conflito pela resposta do Filho, quando disse aos empregados: «Façam o que Ele disser.» A sua delicadeza em Cafarnaum quando, em vez de entrar na casa e saudar seu Filho com orgulho materno, bate à porta e fica fora, esperando ser recebida pelo Filho...
Dessa maneira, Maria dá à luz Cristo, através de nós; nós cumprimos o nosso destino “materno”, e Cristo é cada vez “maior”.
Ignacio Larrañaga
In "O silêncio de Maria"