Catequeses. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente - 4. O primeiro apostolado
Continuemos as nossas catequeses; o tema que escolhemos é: “A paixão de evangelizar, o zelo apostólico. Pois evangelizar não é dizer: “Olha, blá-blá-blá” e nada mais; há uma paixão que engloba tudo: a mente, o coração, as mãos, ir... tudo, a pessoa inteira está envolvida na proclamação do Evangelho, e por isso falamos de paixão de evangelizar. Depois de termos visto em Jesus o modelo e o mestre do anúncio, hoje passemos aos primeiros discípulos, àquilo que os primeiros discípulos fizeram. O Evangelho diz que Jesus «designou doze dentre eles - a quem chamou apóstolos - para andarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 14), duas coisas: para que andassem com Ele e para os enviar a pregar. Há um aspeto que parece contraditório: chama-os para que andem com Ele e para os enviar a pregar. Dir-se-ia: ou um ou outro, ou andar ou enviar. Mas não: para Jesus, não há estar sem ir e não há ir sem estar. Não é fácil entender isto, mas é assim. Procuremos compreender um pouco em que sentido Jesus diz estas coisas.
Em primeiro lugar, não há ir sem estar: antes de enviar os discípulos em missão, Cristo - diz o Evangelho – “reúne-os” (cf. Mt 10, 1). O anúncio nasce do encontro com o Senhor; toda a atividade cristã, especialmente a missão, começa a partir dali. Não se aprende numa academia: não! Começa pelo encontro com o Senhor. Com efeito, testemunhá-lo significa irradiá-lo; mas, se não recebermos a sua luz, extinguir-nos-emos; se não o frequentarmos, anunciar-nos-emos a nós próprios e não a Ele – anuncio-me a mim mesmo, não a Ele - e tudo será vão. Portanto, só a pessoa que andar com Ele poderá anunciar o Evangelho de Jesus. Quem não andar com Ele não pode anunciar o Evangelho. Anunciará ideias, mas não o Evangelho. Mas de igual modo não há estar sem ir. Na realidade, seguir Cristo não é algo intimista: sem anúncio, sem serviço, sem missão, a relação com Jesus não cresce. Observemos que no Evangelho o Senhor envia os discípulos antes de ter completado a sua preparação: pouco depois de os ter chamado, já os envia! Isto significa que a experiência da missão faz parte da formação cristã. Então, recordemos estes dois momentos constitutivos para cada discípulo: estar com Jesus e ir, envidados por Jesus.
Tendo chamado os discípulos a si, e antes de os enviar, Cristo dirige-lhes um discurso, conhecido como o “sermão missionário”, assim se chama no Evangelho. Encontra-se no capítulo 10 do Evangelho de Mateus e é como que a “constituição” do anúncio. Daquele discurso, cuja leitura vos recomendo hoje – é apenas uma página do Evangelho - friso três aspetos: porquê anunciar, o que anunciar e como anunciar.
Porquê anunciar. A motivação está em cinco palavras de Jesus, que nos fará bem recordar: «Recebestes de graça, dai de graça!» (v. 8). São cinco palavras. Mas porquê anunciar? Porque recebi de graça e devo dar de graça. O anúncio não começa por nós, mas pela beleza do que recebemos de graça, sem mérito: encontrar Jesus, conhecê-lo, descobrir que somos amados e salvos. É um dom tão grande que não podemos guardá-lo para nós, sentimos a necessidade de o irradiar; mas com o mesmo estilo, ou seja, na gratuidade. Em síntese: temos um dom, por isso somos chamados a fazer-nos dom; recebemos um dom e a nossa vocação consiste em tornar-nos dom para os outros; em nós há a alegria de ser filhos de Deus, e ela deve ser partilhada com os irmãos e irmãs que ainda não o conhecem! Esta é a razão do anúncio. Ir e anunciar a alegria daquilo que recebemos.
Segundo, o que anunciar? Jesus diz: «Pregai, anunciando que o reino dos céus está próximo» (v. 7). Eis o que se deve dizer, antes de tudo e em tudo: Deus está próximo. Mas, nunca esqueçamos isto: Deus esteve sempre próximo do povo, Ele próprio o recordou ao povo, Disse assim: “Vede, que Deus está tão próximo das nações como Eu estou próximo de vós?”. A proximidade é uma das coisas mais importantes de Deus. Há três aspetos importantes: proximidade, misericórdia e ternura. Não vos esqueçais disto. Quem é Deus? O Próximo, o Terno, o Misericordioso. Esta é a realidade de Deus! Pregando, frequentemente convidamos as pessoas a fazer algo, e isto é bom; mas não esqueçamos que a mensagem principal é que Ele está próximo: proximidade, misericórdia e ternura. Aceitar o amor de Deus é mais difícil, porque queremos estar sempre no centro, desejamos ser protagonistas, estamos mais propensos a deixar-nos plasmar, mais a falar do que a ouvir. Mas, se em primeiro lugar estiver o que fazemos, continuaremos a ser os protagonistas. Ao contrário, o anúncio deve dar a primazia a Deus: dar a primazia a Deus, o primeiro lugar a Deus e oferecer aos outros a oportunidade de o acolher, de sentir que Ele está próximo. E eu, atrás!
Terceiro ponto: como anunciar. É o aspeto sobre o qual Jesus mais insiste: como anunciar, qual é o método, qual deve ser a linguagem para anunciar; é significativo: diz-nos que o modo, o estilo, é essencial no testemunho. O testemunho não envolve apenas a mente, dizer algo, conceitos: não! Engloba tudo, mente, coração, mãos, tudo, as três linguagens da pessoa: a linguagem do pensamento, a linguagem do afeto e a linguagem da obra. As três linguagens. Não se pode evangelizar apenas com a mente ou só com o coração ou unicamente com as mãos. Envolve tudo. E, neste estilo, o importante é o testemunho, como Jesus quer que façamos. Ele diz assim: «Envio-vos como ovelhas no meio de lobos» (v. 16). Não nos pede para saber enfrentar os lobos, isto é, para saber argumentar, reagir e defender-se: não! Pensaríamos assim: tornemo-nos relevantes, numerosos, prestigiosos, e o mundo ouvir-nos-á, respeitar-nos-á e derrotaremos os lobos: não, não é assim! Não, envio-vos como ovelhas, como cordeiros. Isto é importante. Se não quiseres ser ovelha, o Senhor não te defenderá dos lobos. Arranja-te como puderes. Mas se fores ovelha, tem a certeza de que o Senhor te defenderá dos lobos. Ser humilde! Ele pede-nos que sejamos assim, mansos e desejosos de ser inocentes, dispostos ao sacrifício; com efeito, é o que o cordeiro representa: mansidão, inocência, dedicação, ternura. E Ele, o Pastor, reconhecerá os seus cordeiros e protegê-los-á dos lobos. Ao contrário, os cordeiros disfarçados de lobos são desmascarados e dilacerados. Um Padre da Igreja escrevia: «Enquanto formos cordeiros, venceremos; e mesmo que sejamos circundados por numerosos lobos, conseguiremos vencê-los. Mas se formos lobos, seremos derrotados, pois seremos privados da ajuda do pastor. Ele não apascenta lobos, mas cordeiros» (São João Crisóstomo, Homilia 33 sobre o Evangelho de Mateus). Se eu quiser ser do Senhor, devo deixar que Ele seja o meu pastor, e Ele não é pastor de lobos, é pastor de cordeiros mansos, humildes, bons para com o Senhor.
Ainda sobre o modo como anunciar, é impressionante que Jesus, em vez de prescrever o que levar em missão, diga o que não levar. Às vezes, vê-se algum apóstolo, alguma pessoa que se muda, algum cristão que se diz apóstolo e deu a vida pelo Senhor, e carrega muitas bagagens: mas isto não é do Senhor, o Senhor torna suave o nosso fardo e diz o que não devemos levar: «Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos, nem alforge para a viagem, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado» (vv. 9-10). Não levar nada. Diz para não nos apoiarmos em certezas materiais, para ir ao mundo sem mundanidade. É o que se deve dizer: vou ao mundo não com o estilo do mundo, não com os valores do mundo, não com a mundanidade - e para a Igreja, cair na mundanidade é o pior que pode acontecer. Vou com simplicidade! Eis como se anuncia: mostrando Jesus, mais do que falando de Jesus. E como mostramos Jesus? Com o nosso testemunho. Em síntese, caminhando juntos, em comunidade: o Senhor envia todos os discípulos, mas ninguém vai sozinho. A Igreja apostólica é toda missionária e na missão encontra a sua unidade. Portanto: ir mansos e bons como cordeiros, sem mundanidade, e ir juntos. Eis a chave do anúncio, eis a chave do bom êxito da evangelização! Aceitemos estes convites de Jesus: as suas palavras sejam o nosso ponto de referência!
Papa Francisco
Catequese na audiência geral 15.02.23
Imagem: site do Vaticano