Catequese sobre o "Pai Nosso”: 16
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje concluímos o ciclo de catequeses sobre o “Pai-Nosso”. Podemos dizer que a oração cristã nasce da audácia de chamar Deus com o nome de “Pai”. Esta é a raiz da oração cristã: dizer “Pai” a Deus. Mas é preciso coragem! Não se trata tanto de uma fórmula, quanto de uma intimidade filial na qual somos introduzidos por graça: Jesus é o revelador do Pai e doa-nos a familiaridade com Ele. «Não nos deixa uma fórmula para ser repetida maquinalmente. Como em toda a oração vocal, é pela Palavra de Deus que o Espírito Santo ensina os filhos de Deus a orar ao seu Pai» (Catecismo da Igreja Católica, 2766). O próprio Jesus usou diversas expressões para rezar ao Pai. Se lermos com atenção os Evangelhos, descobrimos que estas expressões de oração que afloram aos lábios de Jesus evocam o texto do “Pai-Nosso”.
Por exemplo, na noite do Getsémani Jesus reza deste modo: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres» (Mc 14, 36). Já recordamos este texto do Evangelho de Marcos. Como não deixar de reconhecer nesta prece, mesmo sendo breve, um vestígio do “Pai-Nosso”? No meio das trevas, Jesus invoca Deus com o nome de “Abbá”, com confiança filial e, mesmo sentindo medo e angústia, pede que se cumpra a sua vontade.
Noutros trechos do Evangelho Jesus insiste com os seus discípulos, para que cultivem um espírito de oração. A prece deve ser insistente, e sobretudo deve incluir a recordação dos irmãos, sobretudo quando vivem relações difíceis com eles. Jesus diz: «Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas» (Mc 11, 24-25). Como não reconhecer nestas expressões a concordância com o “Pai-Nosso”? E os exemplos poderiam ser numerosos, também para nós.
Nos escritos de São Paulo não encontramos o texto do “Pai-Nosso”, mas a sua presença emerge naquela síntese maravilhosa na qual a invocação do cristão se condensa numa só palavra: “Abbá!” (cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6).
No Evangelho de Lucas, Jesus satisfaz plenamente o pedido dos discípulos que, vendo muitas vezes que Ele se afasta e se imerge na oração, um dia decidem-se a pedir-lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como João — o Batista — também ensinou os seus discípulos» (11, 1). E então o Mestre ensinou-lhes a oração ao Pai.
Considerando o Novo Testamento no seu conjunto, vê-se claramente que o primeiro protagonista de cada oração cristã é o Espírito Santo. Mas não esqueçamos isto: protagonista de cada oração cristã é o Espírito Santo. Nós nunca poderíamos rezar sem a força do Espírito Santo. É Ele que reza em nós e nos move a rezar bem. Podemos pedir ao Espírito que nos ensine a rezar, pois ele é o protagonista, aquele que faz a verdadeira oração em nós. Ele sopra no coração de cada um de nós, que somos discípulos de Jesus. O Espírito torna-nos capazes de rezar como filhos de Deus, como realmente somos mediante o Batismo. O Espírito faz-nos rezar no “sulco” que Jesus escavou para nós. Este é o mistério da oração cristã: por graça somos atraídos naquele diálogo de amor da Santíssima Trindade.
Jesus rezava assim. Algumas vezes usou expressões que certamente estão muito distantes do texto do “Pai-Nosso”. Pensemos nas palavras iniciais do salmo 22, que Jesus pronuncia na cruz: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mt 27, 46). Pode o Pai celeste abandonar o seu Filho? Claro que não. Contudo o amor por nós, pecadores, levou Jesus até este ponto: até experimentar o abandono de Deus, a sua distância, pois assumiu sobre si todos os nossos pecados. Mas também no grito angustiado, permanece o «meu Deus, meu Deus». Naquele “meu” está o núcleo da relação com o Pai, está o fulcro da fé e da oração.
Eis por que, a partir deste fulcro, um cristão pode rezar em qualquer situação. Pode assumir todas as orações da Bíblia, especialmente dos Salmos; mas pode rezar também com tantas expressões que em milênios de história brotaram do coração dos homens. E ao Pai nunca deixemos de falar dos nossos irmãos e irmãs em humanidade, para que nenhum deles, sobretudo os pobres, permaneça sem uma consolação nem uma porção de amor.
No final desta catequese, podemos repetir aquela oração de Jesus: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos» (Lc 10, 21). Para rezar devemos fazer-nos pequeninos, para que o Espírito Santo venha em nós e seja Ele quem nos guia na oração.
Papa Francisco
Catequese na audiência Geral 22.05.2019