Catequese sobre o Pai-Nosso - 10
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo as nossas catequeses sobre o “Pai-Nosso”, hoje analisamos a terceira invocação: «Seja feita a vossa vontade». Ela deve ser lida em unidade com as primeiras duas — «santificado seja o vosso nome» e «venha a nós o vosso Reino» — de modo que o conjunto forme um tríptico: «santificado seja o vosso nome», venha a nós o vosso Reino», «seja feita a Vossa vontade». Hoje falaremos da terceira.
Antes do cuidado do mundo por parte do homem, há o cuidado incansável que Deus dedica ao homem e ao mundo. O inteiro Evangelho reflete esta inversão de perspectiva. O pecador Zaqueu sobe a uma árvore porque quer ver Jesus, mas não sabe que, muito antes, Deus se tinha posto à sua procura. Jesus, quando chega, diz-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa». E no final declara: «pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19, 5.10). Eis a vontade de Deus, aquela que nós pedimos que seja feita. Qual é a vontade de Deus encarnada em Jesus? Procurar e salvar o que está perdido. E nós, na oração, pedimos que a busca de Deus tenha bom êxito, que o seu desígnio universal de salvação se realize, primeiro, em cada um de nós e depois em todo o mundo. Pensastes no que significa que Deus está à minha procura? Cada um de nós pode dizer: “Como, Deus procura-me?” — “Sim!” Procura-te! Procura a mim”: procura cada um de nós, pessoalmente. Deus é grande! Quanto amor há por detrás de tudo isto.
Deus não é ambíguo, não se esconde por detrás de enigmas, não planificou o futuro do mundo de maneira indecifrável. Não, Ele é claro. Se não compreendemos isto, corremos o risco de não compreender o sentido da terceira expressão do “Pai-Nosso”. Com efeito, a Bíblia está cheia de expressões que nos narram a vontade positiva de Deus em relação ao mundo. E no Catecismo da Igreja Católica encontramos uma recolha de citações que testemunham esta vontade divina fiel e paciente (cf. nn. 2821-2827). E São Paulo, na Primeira Carta a Timóteo, escreve: «Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (2, 4). Esta é, sem dúvida alguma, a vontade de Deus: a salvação do homem, dos homens, de cada um de nós. Deus bate à porta do nosso coração com o seu amor. Porquê? Para nos atrair; para nos atrair a Ele e nos levar em frente no caminho da salvação. Deus está próximo de nós com o seu amor, para nos levar pela mão à salvação. Quanto amor há por detrás disto!
Por conseguinte, rezando “seja feita a Vossa vontade”, não somos convidados a inclinar servilmente a cabeça, como se fôssemos escravos. Não! Deus nos quer livres; é o Seu amor que nos liberta. Com efeito, o “Pai-Nosso” é a oração dos filhos, não dos escravos; mas dos filhos que conhecem o coração do seu pai e têm a certeza do seu desígnio de amor. Ai de nós se, pronunciando estas palavras, levantarmos os ombros em sinal de rendição diante de um destino que nos repugna e que não conseguimos mudar. Ao contrário, é uma oração cheia de confiança fervorosa em Deus que quer para nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, até combativa, pois há no mundo muitas, demasiadas realidades que não são segundo os planos de Deus. Todos as conhecemos. Parafraseando o profeta Isaías, poderíamos dizer: “Aqui, Pai, há a guerra, a prevaricação, a exploração; mas sabemos que Vós quereis o nosso bem, por isso Vos suplicamos; seja feita a Vossa vontade! Senhor, invertei os planos do mundo, transformai as espadas em arados e as lanças em foices; que ninguém se exercite mais para a arte da guerra!” (cf. 2, 4). Deus deseja a paz.
O “Pai-Nosso” é uma oração que acende em nós o mesmo amor de Jesus por vontade do Pai, uma chama que estimula a transformar o mundo com o amor. O cristão não acredita num “facto” incontornável. Nada há de incerto na fé dos cristãos: ao contrário, há a salvação que aguarda para se manifestar na vida de cada homem e mulher e para se cumprir na eternidade. Se rezamos é por que acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade vencendo o mal com o bem. A este Deus tem sentido obedecer e abandonar-se até no momento da provação mais difícil.
Foi assim para Jesus no jardim do Getsemani, quando experimentou a angústia e rezou: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua» (Lc 22, 42). Jesus está oprimido pelo mal do mundo, mas abandona-se confiante no oceano do amor à vontade do Pai. Também os mártires, na sua provação, não procuravam a morte, procuravam o pós-morte, a ressurreição. Deus, por amor, pode levar-nos a caminhar por veredas difíceis, a experimentar feridas e espinhos dolorosos, mas nunca nos abandona. Estará sempre connosco, ao nosso lado, dentro de nós. Para um crente esta é, mais do que uma esperança, uma certeza. Deus está comigo. A mesma que encontramos naquela parábola do Evangelho de Lucas dedicada à necessidade de rezar sempre. Jesus diz: «E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há-de fazê-los esperar? Eu vos digo que lhes vai fazer justiça prontamente» (18, 7-8). Assim é o Senhor, é deste modo que ele nos ama, que gosta de nós. Mas eu sinto vontade de vos convidar, agora, todos juntos a rezar o Pai-Nosso. E quantos de vós não souberem o italiano, rezai-o na vossa língua. Rezemos juntos.
[Recitação do Pai-Nosso]