Catequese sobre o Pai-Nosso - 8

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Parece que o inverno está a ir embora e por conseguinte voltamos à praça. Bem-vindos à praça! No nosso percurso de redescoberta da oração do “Pai-Nosso”, hoje aprofundaremos a primeira das suas sete invocações, isto é, «santificado seja o vosso nome».

Os pedidos do “Pai-Nosso” são sete, facilmente divisíveis em dois subgrupos. Os primeiros três têm no centro o “Vós” de Deus Pai; os outros quatro têm no centro o “nós” e as nossas necessidades humanas. Na primeira parte Jesus faz-nos entrar nos seus desejos, todos dirigidos ao Pai: «santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade»; na segunda é Ele que entra em nós e se faz intérprete das nossas necessidades: o pão nosso de cada dia, o perdão dos pecados, o amparo na tentação e a libertação do mal.

Eis a matriz de cada oração cristã — diria de cada prece humana — que é sempre recitada, por um lado, como contemplação de Deus, do seu mistério, da sua beleza e bondade, e por outro, com sincero e corajoso pedido do que nos serve para viver, e viver bem. Deste modo, na sua simplicidade e essencialidade, o “Pai-Nosso” educa quantos o recitam a não multiplicar palavras vãs, porque — como diz o próprio Jesus — «o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de lho pedirdes» (Mt 6, 8).

Quando falamos com Deus, não o fazemos para revelar a Ele o que temos no coração: Ele conhece-o muito melhor do que nós. Se Deus é um mistério para nós, ao contrário, nós não somos um enigma aos seus olhos (cf. Sl 139, 1-4). Deus é como aquelas mães às quais é suficiente um olhar para compreender tudo dos filhos: se estão contentes ou tristes, se são sinceros ou escondem algo...

Portanto, o primeiro trecho da oração cristã é a entrega de nós mesmos a Deus, à sua providência. É como dizer: “Senhor, vós sabeis tudo, não há necessidade de que eu vos conte a minha dor, peço-vos só que estejais aqui ao meu lado: sois a minha esperança”. É interessante observar que Jesus, no sermão da montanha, imediatamente depois de ter transmitido o texto do “Pai-Nosso”, nos exorta a não nos preocupar nem nos aborrecer pelas situações. Parece uma contradição: primeiro ensina-nos a pedir o nosso pão de cada dia e depois recorda-nos: «Não vos preocupeis, dizendo: “Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?”» (Mt 6, 31). Mas a contradição é só aparente: os pedidos do cristão exprimem a confiança no Pai: e é precisamente esta confiança que faz com que peçamos aquilo de que precisamos sem afã nem agitação.

Por isso rezamos dizendo: “Santificado seja o vosso nome!”. Neste pedido — o primeiro! “Santificado seja o vosso nome!” — sente-se toda a admiração de Jesus pela beleza e grandeza do Pai, e o desejo de que todos o reconheçam e admirem pelo que deveras é. E ao mesmo tempo há a súplica para que o seu nome seja santificado em nós, na nossa família, na nossa comunidade, no mundo inteiro. É Deus que santifica, que nos transforma com o seu amor, mas, ao mesmo tempo, somos também nós que, com o nosso testemunho, manifestamos a santidade de Deus no mundo, tornando presente o seu nome. Deus é santo mas se nós, se a nossa vida não for santa, haverá uma grande incoerência! A santidade de Deus deve refletir-se nas nossas ações, na nossa vida. “Sou cristão, Deus é santo, mas faço muitas coisas negativas”, não, isto não serve. Isto faz até mal; escandaliza e não ajuda.

A santidade de Deus é uma força em expansão, e nós suplicamos a fim de que ela rompa depressa as barreiras do nosso mundo. Quando Jesus começa a pregar, o primeiro a pagar as consequências disto é precisamente o mal que aflige o mundo. Os espíritos malignos praguejam: «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» (Mc1, 24). Nunca se tinha visto uma santidade assim: não preocupada consigo mesma mas inclinada para fora. Uma santidade — a de Jesus — que se alarga em círculos concêntricos, como quando se lança uma pedra num lago. O mal tem os dias contados — o mal não é eterno — o mal não nos pode prejudicar: chegou o homem forte que toma posse da sua casa (cf. Mc 3, 23-27). E este homem forte é Jesus, que dá também a nós a força para tomar posse da nossa casa interior.

A oração afasta qualquer temor. O Pai ama-nos, o Filho ergue os braços apoiando-os aos nossos, o Espírito age em segredo pela redenção do mundo. E nós? Não vacilemos na incerteza. Tenhamos uma grande certeza: Deus ama-me; Jesus doou a vida por mim! O Espírito está dentro de mim. Esta é a grande verdade. E o mal? Tem medo. E isto é bom.

Papa Francisco

Catequese na audiência Geral 27.02.2019