Catequese sobre os Mandamentos - 12

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

Continuando a explicação do Decálogo, hoje chegamos à sétima Palavra: «Não roubarás».

Ouvindo este mandamento, pensamos no tema do roubo e no respeito pela propriedade alheia. Não existe cultura na qual o furto e a prevaricação dos bens sejam lícitos; com efeito, a sensibilidade humana é muito suscetível relativamente à defesa da posse.

Mas vale a pena abrir-se a uma leitura mais ampla desta Palavra, focalizando o tema da propriedade dos bens à luz da sabedoria cristã.

Na doutrina social da Igreja fala-se de destino universal dos bens. Que significa? Ouçamos o que diz o Catecismo: «No princípio, Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse, a dominasse pelo seu trabalho e gozasse dos seus frutos. Os bens da criação são destinados a todo o gênero humano» (n. 2.402). E ainda: «O destino universal dos bens continua a ser primordial, embora a promoção do bem comum exija o respeito pela propriedade privada, pelo direito a ela e pelo respetivo exercício» (n. 2.403).(1)

No entanto, a Providência não dispôs um mundo “em série”; existem diferenças, variadas condições, diferentes culturas, de modo que se pode viver provendo uns aos outros. O mundo é rico de recursos para assegurar os bens primários a todos. E contudo, muitos vivem numa indigência escandalosa e os recursos, usados sem critério, vão-se deteriorando. Mas o mundo é um só! (2) A humanidade é única! Hoje, a riqueza do mundo está nas mãos da minoria, de poucos, e a pobreza, aliás, a miséria e o sofrimento atingem tantos, a maioria.

Se há fome na terra, não é porque falta alimento! Ao contrário, devido às exigências do mercado, às vezes chega-se a destruí-lo, a deitá-lo fora. O que falta é um empresariado livre e clarividente, que garanta uma produção adequada, e uma abordagem solidária, que garanta uma distribuição equitativa. O Catecismo diz ainda: «Quem usa esses bens, não deve considerar as coisas exteriores, que legitimamente possui, só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar, não só a si mesmo, mas também aos outros» (n. 2.404). Para ser boa, toda a riqueza deve ter uma dimensão social.

É nesta perspectiva que se revela o significado positivo e amplo do mandamento «não roubarás». «A propriedade de um bem faz do seu detentor um administrador da Providência» (ibid.). Ninguém é senhor absoluto dos bens: é um administrador dos bens. A posse é uma responsabilidade: “Mas eu sou rico de tudo...” — esta é uma responsabilidade que tens. E cada bem subtraído à lógica da Providência de Deus é atraiçoado, é traído no seu sentido mais profundo. O que realmente possuo é aquilo que sei doar. Esta é a medida para avaliar como consigo gerir as riquezas, se bem ou mal; esta palavra é importante: o que realmente possuo é aquilo que sei doar. Se eu souber doar, se for aberto, então sou rico não apenas daquilo que possuo, mas também em generosidade, generosidade inclusive como dever de distribuir a riqueza, a fim de que todos beneficiem dela. Com efeito, se não consigo doar algo é porque o bem que possuo tem poder sobre mim e sou escravo dele. A posse dos bens constitui uma ocasião para os multiplicar com criatividade e utilizá-los com generosidade, e assim crescer em caridade e liberdade.

Mesmo sendo Deus, o próprio Cristo «não considerou como uma usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo» (Fl 2, 6-7), enriquecendo-nos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9).

Enquanto a humanidade fadiga para ter mais, Deus redime-a tornando-se pobre: aquele Homem Crucificado pagou por todos um resgate inestimável da parte de Deus Pai, «rico em misericórdia» (Ef 2, 4; cf. Tg 5, 11). O que nos torna ricos não são os bens, mas o amor. Ouvimos muitas vezes aquilo que o povo de Deus diz: “O diabo entra pelos bolsos”. Começa-se pelo amor ao dinheiro, pela fome de possuir; depois, vem a vaidade: “Ah, eu sou rico e tenho orgulho disto”; e, no final, o orgulho e a soberba. É assim que o diabo age em nós. Mas a porta de entrada são os bolsos!

Estimados irmãos e irmãs, Jesus Cristo revela-nos mais uma vez o pleno sentido das Escrituras. «Não roubarás» quer dizer: ama com os teus bens, tira proveito dos teus meios para amar como podes. Então, a tua vida torna-se boa e a posse torna-se verdadeiramente uma dádiva. Pois a vida não é o tempo para possuir, mas para amar. Obrigado!

Papa Francisco

Catequese na audiência Geral 7.11.2018

imagem: pexels.com

 


1 Cf. Enc. Laudato si’, 67: «Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Em última análise, “ao Senhor pertence a terra” (Sl 24 [23], 1), a Ele pertence “a terra e tudo o que nela existe” (Dt 10, 14). Por isso, Deus proíbe-nos toda a pretensão de posse absoluta: “Nenhuma terra será vendida definitivamente, porque a terra me pertence, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes” (Lv 25, 23)».

2 Cf. São Paulo VI, Enc. Populorum progressio, 17: «Mas cada homem é membro da sociedade: pertence à humanidade inteira. Não é apenas tal ou tal homem; são todos os homens, que são chamados a este pleno desenvolvimento [...] Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós para aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever».