Catequese sobre os Mandamentos - 10
Gostaria de prosseguir a catequese sobre a Quinta Palavra do Decálogo, «não matar». Já sublinhamos como este mandamento revela que aos olhos de Deus a vida humana é precisa, sagrada e inviolável. Ninguém pode desprezar a vida alheia ou a própria; o ser humano, com efeito, traz consigo a imagem de Deus e é objeto do seu amor infinito, qualquer que seja a sua condição em que foi chamado à existência. (…)
Jesus revela-nos deste mandamento um sentido ainda mais profundo. Ele afirma que, diante do tribunal de Deus, até a ira contra um irmão é uma forma de homicídio. Por isso o apóstolo João escreverá: «Aquele que odeia o seu irmão é homicida». Mas Jesus não se fica por aqui, e na mesma lógica acrescenta que também o insulto e o desprezo podem matar. E nós estamos habituados a insultar, é verdade. E o insulto acontece-nos como se fosse uma respiração. E Jesus diz-nos: «Parai, porque o insulto faz mal, mata». O desprezo. «Esta gente desprezo». E esta é uma forma de matar a dignidade da pessoa. E belo seria que este ensinamento de Jesus entrasse na mente e no coração, e cada um de nós dissesse: «Não voltarei a insultar alguém». Seria um belo propósito, porque Jesus diz-nos: «Olha, se tu desprezas, se tu insultas, se tu odeias, isso é homicídio».
Nenhum códice humano equipara atos tão diferentes marcando-os com o mesmo grau de juízo. E coerentemente Jesus convida até a interromper a oferta do sacrifício no tempo se a pessoa se nos recordamos que um irmão foi por nós ofendido, de maneira a irmos procura-lo e reconciliarmo-nos com ele. Também nós, quando vamos à missa, devemos ter esta atitude de reconciliação com as pessoas com as quais tivemos problemas. Mesmo se pensamos mal delas, se as insultamos. Mas muitas vezes, enquanto esperamos que venha o sacerdote para dizer a missa, murmura-se um bocado e fala-se mal dos outros. Isto não se pode fazer. Pensemos na gravidade do insulto, do desprezo, do ódio: Jesus coloca-nos na linha da morte.
O que quer dizer Jesus ao estender até este ponto o campo da Quinta Palavra? O ser humano tem uma vida nobre, muito sensível, e possui um “eu” recôndito não menos importante que o seu ser físico. Com efeito, para ofender a inocência de uma criança, basta uma frase inoportuna. Para ferir uma mulher pode bastar um gesto frio. Para espezinhar o coração de um jovem é suficiente negar-lhe a confiança. Para aniquilar um homem basta ignorá-lo. A indiferença mata. É como dizer de outra pessoa: «Tu estás morta para mim», porque a mataste no teu coração. Não amar é o primeiro passo para matar; e não matar é o primeiro passo para amar.
Na Bíblia, ao início, lê-se aquela frase terrível saída da boca do primeiro homicida, Caim, depois de o Senhor lhe perguntar onde estava o seu irmão. Caim responde: «Não sei. Serei eu, porventura, o guardião do meu irmão?». Assim falam os assassinos: «Não me diz respeito», «é problema teu», e coisas semelhantes. Experimentemos responder a esta pergunta: somos nós os guardiões dos nossos irmãos? Sim, somos? Somos guardiões uns dos outros! E este é o caminho da vida, é o caminho do não matar.
A vida humana precisa de amor. E qual é o amor autêntico? É aquele que Cristo nos mostrou, isto é, a misericórdia. O amor de que não podemos prescindir é aquele que perdoa, que acolhe quem fez mal. Nenhum de nós pode sobreviver sem misericórdia, todos precisamos do perdão. Por isso, se matar significa destruir, suprimir, eliminar alguém, então não matar quererá dizer curar, valorizar, incluir. E também perdoar.
Ninguém pode iludir-se pensando: «Estou a postos porque não faço nada de mal». Um mineral ou uma planta têm este tipo de existência, mas um ser humano não. Uma pessoa – um homem ou uma mulher – não. A um homem ou a uma mulher é pedido mais. Há bem a fazer, preparado para cada um de nós, a cada um o seu, que nos torna nós mesmos até ao fundo. «Não matar» é um apelo ao amor e à misericórdia, é um chamamento a viver segundo o Senhor Jesus, que deu a vida por nós e por nós ressuscitou. Uma vez repetimos todos juntos, aqui na Praça de S. Pedro, uma frase de um santo sobre isto. Talvez nos ajude: «Não fazer mal é coisa boa. Mas não fazer o bem não é bom». Devemos sempre fazer o bem. Ir mais além.
Ele, o Senhor, que ao incarnar-se santificou a nossa existência; Ele, que com o seu sangue a tornou inestimável; Ele, o autor da vida, graças a quem cada um é um presente do Pai. Nele, no seu amor mais forte que a morte, e pelo poder do Espírito que o Pai nos dá, podemos acolher a Palavra «não matar» como o apelo mais importante e essencial: ou seja, não matar significa um chamamento ao amor.
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad.: Rui Jorge Martins in: SNPC