Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje é a festa de Santo Antônio de Pádua. Quem de vós se chama Antônio? Um aplauso a todos os “Antônios”. Hoje começamos um novo itinerário de catequeses sobre o tema dos mandamentos. Os mandamentos da lei de Deus. Para o introduzir, inspiramo-nos no trecho que acabamos de ouvir: o encontro entre Jesus e um homem — é um jovem — que, de joelhos, lhe pergunta como pode herdar a vida eterna (cf. Mc 10, 17-21). E naquela pergunta há o desafio de cada existência, também da nossa: o desejo de uma vida plena, infinita. Mas como fazer para a alcançar? Que caminho percorrer? Viver verdadeiramente, viver uma existência nobre... Quantos jovens procuram “viver” e depois destroem-se, indo atrás de coisas efémeras.
Alguns pensam que é melhor suprimir este impulso — o impulso de viver — porque é perigoso. Gostaria de dizer, especialmente aos jovens: o nosso pior inimigo não são os problemas concretos, por mais sérios e dramáticos que sejam: o maior perigo da vida é um mau espírito de adaptação, que não é mansidão nem humildade, mas mediocridade, pusilanimidade.[1] Um jovem medíocre tem futuro ou não? Não! Permanece ali, não cresce, não terá sucesso. A mediocridade ou a pusilanimidade. Aqueles jovens que têm medo de tudo: “Não, eu sou assim...”. Estes jovens não irão em frente. Mansidão, fortaleza e nenhuma pusilanimidade, nenhuma mediocridade. O Beato Pier Giorgio Frassati — que era um jovem — dizia que é preciso viver, não ir vivendo.[2] Os medíocres vão vivendo. Viver com a força da vida. É necessário pedir ao Pai celeste para os jovens de hoje o dom da saudável inquietação. Mas em casa, nos vossos lares, em cada família, quando se vê um jovem sentado o dia inteiro, às vezes a mãe e o pai pensam: “Mas ele está doente, tem algo”, e levam-no ao médico. A vida do jovem é ir em frente, ser desassossegado, a saudável inquietação, a capacidade de não se contentar com uma vida sem beleza, sem cor. Se os jovens não forem famintos de vida autêntica, pergunto-me, que fim terá a humanidade? Onde vai parar a humanidade com jovens quietos, e não inquietos?
A pergunta daquele homem do Evangelho que ouvimos ressoa dentro de cada um de nós: como se encontra a vida, a vida em abundância, a felicidade? Jesus responde: «Tu conheces os mandamentos» (v. 19), e cita uma parte do Decálogo. É um processo pedagógico, com o qual Jesus quer orientar para um lugar específico; com efeito, da sua pergunta já é claro que aquele homem não tem a vida plena, procura mais, está inquieto. Portanto, o que deve entender? Diz: «Mestre, «tenho observado tudo isto desde a minha mocidade!» (v. 20).
Como se passa da mocidade para a maturidade? Quando se começa a aceitar os próprios limites. Tornamo-nos adultos quando nos relativizamos e adquirimos a consciência daquilo «que falta» (cf. v. 21). Este homem é obrigado a reconhecer que tudo o que pode “fazer” não supera um “teto”, não vai além de uma margem.
Como é bom ser homens e mulheres! Como é preciosa a nossa existência! E no entanto, existe uma verdade que na história dos últimos séculos o homem rejeitou frequentemente, com consequências trágicas: a verdade dos seus limites.
No Evangelho, Jesus diz algo que nos pode ajudar: «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para os levar a cumprimento» (Mt 5, 17). O Senhor Jesus concede o cumprimento, Ele veio para isto. Aquele homem devia chegar ao limiar de um salto, onde se abre a possibilidade de deixar de viver de si mesmo, das próprias obras, dos próprios bens e — precisamente porque falta a vida plena — deixar tudo para seguir o Senhor.[3] Analisando bem, no convite final de Jesus — imenso, maravilhoso — não há a proposta da pobreza, mas da verdadeira riqueza: «Só te falta uma coisa; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!» (v. 21).
Quem, podendo escolher entre um original e uma cópia, escolheria a cópia? Eis o desafio: encontrar o original da vida, não a cópia. Jesus não oferece sucedâneos, mas vida verdadeira, amor verdadeiro, riqueza verdadeira! Como poderão os jovens seguir-nos na fé, se não nos virem escolher o original, se nos virem habituados às meias-medidas? É desagradável encontrar cristãos medianos, cristãos — permiti-me a palavra — “anões”; crescem até a uma certa estatura e depois não; cristãos com o coração reduzido, fechado. É desagradável encontrar isto. É necessário o exemplo de alguém que me convida a um “além”, a um “acréscimo”, a crescer um pouco. Santo Inácio denominava-o “magis”, «o fogo, o fervor da ação, que desperta os sonolentos».[4]
O caminho do que falta passa por aquilo que existe. Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas para levar a cumprimento. Devemos partir da realidade para dar o salto naquilo “que falta”. Temos que sondar o ordinário para nos abrirmos ao extraordinário.
Nestas catequeses pegaremos nas duas tábuas de Moisés como cristãos, de mãos dadas com Jesus, a fim de passar das ilusões da juventude para o tesouro que está no céu, caminhando atrás dele. Em cada uma daquelas leis, antigas e sábias, descobriremos a porta aberta pelo Pai que está nos céus para que o Senhor Jesus, que a cruzou, nos conduza à vida verdadeira. A sua vida. A vida dos filhos de Deus!
Papa Francisco
Catequese na audiência geral de 13.06.2018
[1] Os Padres falam de pusilanimidade (oligopsychía). São João Damasceno define-a como «o receio de realizar uma ação» (Exposição exata da fé ortodoxa, II, 15), e São João Clímaco acrescenta que «a pusilanimidade é uma disposição pueril, numa alma que já não é jovem» (A Escada, XX, 1, 2).
[2] Cf. Carta a Isidoro Bonini, 27 de fevereiro de 1925.
[3] «O olho foi criado para a luz, o ouvido para os sons, cada coisa para a sua finalidade, e o desejo da alma para se lançar rumo a Cristo» (Nicolau Cabasilas, A vida em Cristo, II, 90).
[4] Discurso à XXXVI Congregação Geral da Companhia de Jesus, 24 de outubro de 2016: «Trata-se do “magis”, do plus que leva Inácio a inaugurar processos, a acompanhá-los e a avaliar a sua real incidência na vida das pessoas, em matéria de fé, ou de justiça, ou a misericórdia e caridade».