Nenhum de nós pode viver sem amor. E uma terrível escravidão na qual podemos cair é considerar que o amor deve ser merecido. Talvez uma boa parte da angústia do homem contemporâneo deriva disto: acreditar que se não formos fortes, atraentes e bonitos, então ninguém se ocupará de nós. Muitas pessoas hoje só procuram a visibilidade para preencher o vazio interior: como se fôssemos pessoas eternamente necessitadas de confirmações. Contudo, podeis imaginar um mundo no qual todos mendigam motivos para chamar a atenção dos outros e, ao contrário, ninguém está disposto a amar gratuitamente outra pessoa? Imaginai um mundo assim: um mundo sem a gratuidade do querer bem! Parece um mundo humano, mas na realidade é um inferno.

Muitos narcisismos do homem nascem de um sentimento de solidão e de orfandade. Por detrás de tantos comportamentos aparentemente inexplicáveis esconde-se uma pergunta: é possível que eu não mereça ser chamado pelo nome, isto é, ser amado? Porque o amor chama sempre pelo nome...

Quando quem não é ou não se sente amado é um adolescente, então pode nascer a violência. Por detrás de muitas formas de ódio social e de brutalidade com frequência há um coração que não foi reconhecido. Não existem crianças más, assim como não existem adolescentes totalmente malvados, mas existem pessoas infelizes. O que nos pode tornar felizes, senão a experiência do amor dado e recebido? A vida do ser humano é uma troca de olhares: alguém que ao olhar para nós conquista primeiro o nosso sorriso, e nós que gratuitamente sorrimos para quem está fechado na tristeza, e deste modo abrimos-lhe uma saída. Troca de olhares: fitai nos olhos e abrir-se-ão as portas do coração.

O primeiro passo que Deus dá na nossa direção é de um amor antecipado e incondicional. Deus ama primeiro. Deus não nos ama porque em nós existe um motivo que suscita amor. Deus ama-nos porque Ele próprio é amor, e por sua natureza o amor tende a difundir-se, a doar-se. Deus não relaciona nem sequer a sua benevolência à nossa conversão: pode ser que esta seja uma consequência do amor de Deus. São Paulo diz de maneira perfeita: «Deus demonstra o seu amor para connosco no facto de que, enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós» (cf. Rm 5, 8). Enquanto ainda éramos pecadores. Um amor incondicional. Estávamos “distantes”, como o filho pródigo da parábola: «Quando estava ainda distante, o seu pai viu-o, sentiu compaixão...» (Lc 15, 20). Por amor a nós Deus realizou um êxodo de Si mesmo, para vir ter connosco nesta terra por onde era insensato que Ele transitasse. Deus amou-nos até quando estávamos enganados.

Quem de nós ama desta maneira, exceto quem é pai ou mãe? Uma mãe continua a amar o seu filho até quando ele vai para o cárcere. Recordo-me de muitas mães, que faziam a fila para entrar nas prisões, na minha diocese precedente. E não se envergonhavam. O filho estava na prisão, mas era o seu filho. E sofriam muitas humilhações nas perquirições, antes de entrar, mas: “É o meu filho!”. “Mas, senhora, o seu filho é um delinquente!” — “É o meu filho!”. Só este amor de mãe e de pai nos leva a compreender como é o amor de Deus. Uma mãe não pede o cancelamento da justiça humana, porque cada erro exige uma redenção, mas uma mãe nunca deixa de sofrer pelo próprio filho. Ama-o até quando é pecador. Deus faz o mesmo connosco: somos os seus filhos amados! Mas pode acontecer que Deus tenha alguns filhos aos quis não ama? Não. Todos somos filhos amados de Deus. Não existe maldição alguma na nossa vida, só uma benévola palavra de Deus, que hauriu a nossa existência do nada. A verdade de tudo é a relação de amor que une o Pai com o Filho mediante o Espírito Santo, na qual somos acolhidos pela graça. N’Ele, em Jesus Cristo, fomos queridos, amados e desejados. Há Alguém que imprimiu em nós uma beleza primordial que pecado algum, que escolha errada alguma, nunca poderá cancelar totalmente. Nós, diante do olhar de Deus, somos sempre pequenas fontes feitas para jorrar água boa. Jesus disse à samaritana: «A água que Eu [te] der tornar-se-á [em ti] fonte de água que jorra para a vida eterna» (cf. Jo 4, 14).

Qual é o remédio para mudar o coração de uma pessoa infeliz? Qual é o remédio para mudar o coração de uma pessoa que não é feliz? [respondem: o amor]. Mais alto! [gritam: o amor!]. Excelente, excelente, parabéns a todos! E como se faz para sentir à pessoa que é amada? Antes de tudo, é preciso abraçá-la. Fazer com que se sinta desejada, que é importante, e deixará de ser triste. Amor chama amor, de modo mais forte do que o ódio chama a morte. Jesus não morreu e ressuscitou para si mesmo, mas para nós, para que os nossos pecados sejam perdoados. Portanto, é tempo de ressurreição para todos: tempo de erguer os pobres do desânimo, sobretudo os que jazem no sepulcro por um período muito mais longo do que três dias.

Sopra aqui, nos nossos rostos, um vento de libertação. Brota aqui o dom da esperança. A esperança de Deus Pai que nos ama assim como somos: ama-nos sempre e a todos. Obrigado!

Papa Francisco

Catequese na Audiência Geral 14.06.2017