Narrador(a)- Estamos no Tempo da Quaresma. Nele, a Igreja nos convida a refletir e caminhar à luz do tema da Campanha da Fraternidade. No calendário litúrgico, o calendário da Igreja, a Quaresma é um período de 40 dias que vai da quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, que abre a Semana Santa.

O número quarenta tem um significado especial. Antigamente, antes do desenvolvimento das vacinas e dos antibióticos, uma das formas de evitar a transmissão de doenças era colocar as pessoas com suspeita de doenças contagiosas em “quarentena”, isoladas das outras, até que se recuperassem, que estivessem curadas.

Leitor 1- Na linguagem bíblica, o número quarenta também tem esse simbolismo de purificação e renovação. Na parábola da Arca de Noé (Gn 7,17-24), por quarenta dias caíram as águas do dilúvio sobre a Terra, preparando uma nova criação. Por quarenta anos o povo hebreu vagou pelo deserto (Nm 33,1-39), guiado por Moisés, até chegar e conquistar a Terra Prometida. Jesus ficou 40 dias no deserto, em jejum e oração (Mt 4,1-11), preparando-se para iniciar sua vida pública. O Tempo da Quaresma é, pois, um tempo de purificação e preparação. 

Leitor 2- Mas nos purificamos e nos preparamos para quê?  

Todos- Para a festa da Páscoa, o mistério maior da Fé Cristã.

Leitor 1- Mas a maior festa cristã não é o Natal?

Narrador(a)- Não, no Natal celebramos a vida que nasce em Jesus. Na Páscoa, celebramos a vida que renasce por Jesus, que vence a morte, superando todos os limites da experiência humana.

No Natal Jesus nasce. Torna-se um homem como tantos. Vive sua vida no meio de nós. Suas ideias e ações o colocam em confronto com os poderosos do seu tempo. O conflito é inevitável. As consequências também. Ele é preso, julgado, condenado e morto. Seu corpo é colocado num túmulo. Vamos lembrar e celebrar tudo isso na Semana Santa.

Leitor 2- Até aí, Jesus é um personagem que, como tantos outros na História, deu a vida por suas ideias, por seus ideais.

Que pessoas podemos lembrar que viveram e até morreram por um ideal, por um sonho, pela liberdade, pela dignidade humana? Pessoas que são a força de uma família, de um grupo, de uma comunidade; pessoas que são luz e que geram vida para outras pessoas; pessoas “pascais”.

Momento de partilha

Narrador(a)- Essas pessoas morreram por causa das suas ideias, dos seus ideais. Jesus também. Mas, na madrugada daquele domingo, Ele salta da História para o mistério da nossa Fé.

Todos- Jesus está vivo. Nele a Vida RENASCE. E para sempre, pois os dons de Deus são assim, irrevogáveis.

Narrador(a)- Por isso nos preparamos, durante a Quaresma, para celebrar a Páscoa.

Mas vamos lembrar esses acontecimentos num passeio pela memória, um olhar sobre a História...

Leitor 3- A primeira experiência pascal é do povo hebreu, cerca de 1300 anos antes de Cristo. Muita gente se lembra de alguma coisa dessa história. A saga dos descendentes de José do Egito, que se multiplicaram em terra estrangeira e se viram submetidos a cruel escravidão. Deus VÊ a realidade do seu povo, ouve o seu clamor e se compadece.

Narrador(a)- E do olhar, à ação: Deus toca o coração de Moisés e o envia como o libertador. Vem então o confronto com o Faraó, as pragas e flagelos. No último, o Anjo do Senhor passa e fere de morte os primogênitos do Egito, inclusive a casa do Faraó, que, vencido, cede. Moisés inicia, então, a caminhada com o povo Hebreu em busca da Terra que Deus lhes prometera.

Leitor 4- Mas o Faraó se arrepende e envia seus exércitos contra os fugitivos. Eles se veem cercados, acuados diante do Mar Vermelho. Mais uma vez, a força de Deus os conduz na travessia, numa passagem cheia de simbolismo. De um lado fica a escravidão, o sofrimento. Do outro, a promessa de uma terra onde jorra leite e mel, onde se poderá viver em liberdade, louvando o Deus de Israel.

Conquistada a terra, o povo hebreu assimila essa história e a transforma em rito no qual celebra, todos os anos, a passagem da escravidão para a liberdade. É o Pêssach, a Páscoa Judaica que o povo hebreu celebra até hoje. 

Narrador(a)- Mais de mil anos depois de Moisés, encontramos Jesus com seus amigos ao redor de uma mesa. Como bons judeus, eles se reúnem para celebrar a Páscoa Judaica. O rito é cheio de gestos, cantos, símbolos e alegria. Toda uma história que começou na casa de Abraão é ali celebrada.  À mesa, ervas amargas lembram a escravidão. Mas o cordeiro pascal, o pão, o vinho, falam de fartura e da alegria de ser o povo escolhido por Javé.

Leitor 1- Mas algo misterioso acontece naquela ceia. Jesus, em dado momento, apropria-se dos símbolos da Páscoa Judaica e dá a eles um outro sentido, mais amplo, universal. Já não é mais apenas um povo, fechado em si mesmo, em suas tradições, que é chamado a sentar-se à mesa do Senhor. Jesus convida a passar a uma ‘nova e eterna aliança com todos os homens...’.

Leitor 2- Jesus Parte o pão e revela que o seu corpo também será ‘partido’. O vinho, brinde à vida, antecipa o sangue que será derramado em gesto de amor pleno. E ao final, Ele convida a fazer de tudo isso memória viva da sua presença; “Eu estarei com vocês todos os dias...”. 

Todos- Desde então, desde sempre, Ele está no meio de nós...

Leitor 3- As horas seguintes confirmam cada palavra dita ao redor daquela mesa. Em Jesus, uma passagem também acontece. Ele passa pela escravidão feita de traição, prisão, julgamento, tortura e condenação. Na cruz, o sinal de uma derrota aparentemente total. Aquele que passou pela vida fazendo o bem é agora prisioneiro de um túmulo de morte.

Leitor 4- Mas, no amanhecer do domingo, o dia do Senhor... a travessia se completa. Passando da escravidão da Morte para liberdade da Vida, Deus faz a nova Páscoa acontecer. A Ressurreição é a Páscoa de Jesus de Nazaré.

Narrador(a)- Mas essa é outra história, ou melhor, a continuação da história que vamos celebrar, no Domingo de Páscoa...

 

 

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Apresentação do cartaz da Campanha da Fraternidade 2014

 

Tema– Fraternidade e Tráfico Humano

Lema: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”

 

Oração da CF-2014: Ó Deus, sempre ouvis o clamor do vosso povo e vos compadeceis dos oprimidos e escravizados, fazei que experimentem a libertação da cruz e a ressurreição de Jesus. Nós vos pedimos pelos que sofrem o flagelo do tráfico humano. Convertei-nos pela força do vosso espírito, e tornai-nos sensíveis às dores destes nossos irmãos. Comprometidos na superação deste mal, vivamos como vossos filhos e filhas, na liberdade e na paz. Por Cristo nosso Senhor. Amém! 

 

Eduardo Machado

professor e coordenador de pastoral do colégio Imaculada em BH