O Papa Francisco recordava-nos no discurso que fazia aos catequistas participantes no Congresso Internacional da Catequese durante o Ano da Fé (2013):
“Ser catequista! Não trabalhar como catequista: isso não adianta!(…)Catequista é uma vocação. Ser catequista: é esta a vocação; não trabalhar como catequista. Atenção, que eu não disse fazer de catequista, mas sê-lo, porque compromete a vida”.
“Mas, por favor, não se compreende um catequista que não seja criativo. A criatividade é como que a coluna do ser catequista. Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos. Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anunciar o Evangelho”.
Neste tempo difícil em que nos encontramos, todos nós, catequistas, estamos convidados a viver, mais do que nunca, estas palavras do Papa. Não podemos nos “fazer” de catequistas, pelo menos da maneira habitual; mas isso não é razão para devermos deixar de “ser” catequistas: Somos catequistas, sempre! Chamados a ser criativos!
De fato, porque não podemos nos “fazer” de catequistas, esta situação oferece-nos uma grande oportunidade para experimentar o que significa “ser” catequistas. Aqui ficam então algumas sugestões para estes tempos de Coronavírus:
1.Reza pelas crianças e adolescentes da catequese, pelos seus familiares, pelos outros catequistas e por todas as outras pessoas da paróquia.
2.Faça contato (por chamada telefônica ou videochamada, chats, mensagens, WhatsApp…) os pais dos catequizandos e interessa-te por eles e pelas suas famílias.
3.Pergunta se podes fazer alguma coisa por eles ou pelos seus filhos: ajudá-los com as compras, as tarefas, os trabalhos escolares das crianças ou adolescentes…
4.Dá os parabéns aos teus catequizandos nos aniversários (e podes até fazê-lo também no dia dos santos com os seus nomes), ou torna-te presente para festejar qualquer acontecimento, mas sempre através de meios digitais ou telefone para a comunicação.
5.Oferece-te para ajudar os pais a continuar com a catequese em família e em casa(onde for possível): indica-lhes o tema em que se encontravam os filhos, envia-lhes algum material que utilizas para a catequese semanal e ajuda-os a familiarizar-se com eles e com a sua utilização. Nosso site fez também várias sugestões. É só você conferir neste link.
Confira também o site: www.jesuscristoemcasa.com que contém encontros catequéticos com crianças em família, os pais poderão baixar o material disponível.
6.Propõe aos pais em cada semana a tua colaboração para a realização da catequese familiar, através de mensagens de voz, vídeos, chats ou videoconferências com as crianças ou adolescentes; ou explicando como podem realizá-la. Veja sugestões aqui em nosso site neste link.
7.Procura realizar, se for possível, e de acordo com os pais, uma videochamada de grupo para saudar as crianças ou adolescentes e estar um pouco com eles como grupo; para rezarem juntos uma breve oração ou terem um momento de catequese em grupo.
8.Mantém o contato através dos meios digitais e redes sociais com os outros catequistas da paróquia e com o pároco, ou com catequistas de outras paróquias: para se animarem mutuamente e partilharem a vida, perguntarem pelas pessoas conhecidas e interessarem-se pelas suas situações; para compartilharem novos materiais e iniciativas para a catequese nesta situação.
9.Contribui para manter, o calendário das atividades paroquiais de catequese já programadas: reuniões online de catequistas ou encontros online de formação…
10.Não te esqueças de dedicar tempo a ti própria/o como catequista: para continuares a aprofundar a nossa vocação e identidade de catequistas; e, na formação, para cultivares a nossa espiritualidade por meio da oração e da meditação, para fazeres essas leituras de apoio à catequese para as quais nunca temos tempo. Este site tem semanalmente a reflexão espiritual do Evangelho de cada domingo e outras sugestões para o cultivo da Espiritualidade.
11.Visita diferentes sites onde encontrarás informações úteis para este tempo, propostas, atividades e materiais, etc., para realizar a catequese nesta nova modalidade, e também para tua formação (www.catequesedobrasil.org.br e o canal do youtube deste site por exemplo)
NOTA: Este texto que compartilhamos aqui com adaptações, foi elaborado na Espanha para orientar os catequistas no período da pandemia. Poderá servir de ajuda aqui também na conjuntura atual.
Equipe do site
05.06.2020
Nos dias que correm. Perdão. Nos dias que andam (bem lentamente) temos sido mais sugados pelo pessimismo. Antes de toda esta suspensão obrigatória e imposta, vivíamos reféns de um ritmo alucinante. Tudo acontecia demasiado depressa, à velocidade de um cruzeiro primo do Titanic. Agíamos como autênticos donos do mundo, sem ter nada que fosse, realmente, nosso.
Não estávamos felizes. E agora também não estamos.
Não sabíamos gerir o tempo. E agora também não sabemos.
Não tínhamos tempo para o mais importante. E agora também não temos.
Não sabíamos ver o lado bom da vida. E agora também não vemos.
Não atravessávamos zonas que fossem além da zona de conforto. E agora também não atravessamos.
Estamos ao colo do pessimismo. Como estávamos antes. Tudo a correr mal. Tudo é demasiado. O ritmo continua a ser de loucos. O trabalho é em quantidades absurdas e inumanas ou calou-se simplesmente e deixou de existir. Estamos fartos uns dos outros e da nossa versão de perfil online e virtual. Queríamos mais pele. Mais beliscões de alma que nos agarrassem à vida e ao mundo com as unhas e os dentes de antes.
Já chega de nos deixarmos estar neste colo de amarguras e queixumes colecionados. O colo da esperança é mais bonito que este. Mais leve. Mais tranquilo. Mais certo. É da esperança que nascem frutos. Do pessimismo só nascem cardos e espinhos.
É da esperança que surge o essencial. O que está escrito nas entrelinhas. O que está subentendido no sorriso que alguém teima em devolver-nos.
É da esperança que nasce tudo.
Enquanto estamos ao colo do pessimismo não nos permitimos reparar que a vida continua a existir. Há bebés que nascem, saudáveis, no meio de um mundo virado de pernas para o ar. Alheios a tudo, mostram-nos a única coisa que importa:
É da esperança que nasce tudo.
Marta Arrais
In: imissio.net 15.04.2020
25 de março de 2020 – Festa da Anunciação:“E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”.
Hoje, assisti pela TV Vatican News, papa Francisco presidindo a Celebração Eucarística. Que grande graça celebrar com o pastor maior de nossa Igreja. A TV colocou a capelinha singela da Casa de Santa Marta, dentro de nossa casa. E ali, pude ver de perto o olhar, as mãos, os gestos de nosso Papa.
Quanta unção! Quanta espiritualidade emana do Santo Padre! Verdadeiro homem de Deus!A serenidade é sua marca. Harmoniozamente, sua oração emana de seu corpo, sua mente, alma e sentidos todos.
Chamou-me ainda a atenção quando Francisco proclamou o Santo Evangelho. Com tranquilidade as Palavras de Lucas foram derramadas para dentro de nossa sala. Diante do “livro santo” Francisco comunga da Palavra. A comunhão/Palavra de Salvação tocam seu olhar e coração de maneira corporalmente visível.
Silêncio profundo...olhos fechados mas abertos ao Mistério de Deus.
Pensei: Que delícia! Vou ouvir sua homilia. Diante da TV, a conversa do papa será comigo, sozinha em minha sala.
Ele começa: “Lucas viveu com Maria, portanto ninguém melhor que ele para contar sua história. Narrar esse instante da visita do Anjo Gabriel à Virgem Maria. É este o Mistério de um Deus que veio nos visitar. Encarnou-se e fez morada entre nós.
Novo silêncio.... Francisco silencia com os sentidos. Reza, reverenciando o Mistério. Diante dEle nenhuma palavra a proferir...diante dEle a adoração!
A mais linda homilia que vivi!
O que aprender dessa experiência, querido catequista? Fico pensando na poesia de Clarice Lispector que diz: “Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso”. Francisco ensina-nos, que diante do Mistério o silêncio diz o que não conseguimos expressar com palavras. É necessário captar a beleza nele está escondida. O Mistério se mistura na vida. Experiência concreta é captar o sentido que o Mistério tem em nossa existência.
Fazer catequese é também, querido catequista, descobrir um jeito novo de viver as situações corriqueiras, tornando-as plenas do Mistério de Deus! Como viver assim? Lembrar sempre que Deus amou-nos primeiro. E isso, o papa nos ensinou ao dizer-nos que devemos “Primeirar” com os nossos sentidos, procurando olhar a fé com o coração, escutar bem de perto tudo que foi criado, saborear a doçura de ser humano, sentir com a pele tatuada de bons desejos, sentir o cheiro da infância, adolescência, juventude e adultez de nossos catequizandos. Sentir o cheiro de Jesus! E qual é o cheiro de Jesus?
A vida que Jesus viveu tem cheiros que impregnam as memórias do coração! As histórias parabólicas que contou, tiradas da vida cotidiana de sua cultura rural; as andanças por tantos caminhos que caminhou, e as palavras que proclamou; as curas que realizou nos encontros tão plenos de amor e misericórdia. Jesus recuperou-nos e levou-nos ao Pai.
Certamente é este o grande segredo, querido catequista, partilhar experiências que vivemos no dia a dia, em sintonia com o estilo de amor delicado e forte vivido por Jesus. Jesus, o maior catequista, comunicava-se com os discípulos e com todos que o seguiam, através de recursos que trazia dentro de Si. Era pela palavra, pelo silêncio, pelas metáforas, pela imagem e tantos outros sinais que anunciava o Reino e fazia discípulos.
Aprender de Jesus a sua pedagogia, é nossa missão e o jeito de fazer catequese. E em tempo tão adverso de pandemia, Francisco vem nos ensinar a simplicidade de anunciar Jesus. Não podemos realizar os encontros com nossos catequizandos em nossas comunidades. Estamos vivendo a quarentena tão necessária à vida. Então, vamos nos reinventar, fazendo uso da linguagem midiática e da sintonia com aqueles que estão sob nossos cuidados, para que cresçam na fé, esperança e amor.
Rita de Cássia Rezende
Pouso Alegre-MG - 25.03.2020
Por que Ir. Mary veio?
“Porventura o mais fecundo a perguntar, quando nossos amigos morrem, não é: ‘Por que é que eles partiram?’. O que levaremos o resto da vida para responder, sempre em total gratidão, é antes: ‘Por que é que eles vieram?’” (José Tolentino).
Hoje, alguém afirmou; “Ir. Mary foi uma estrela que indicou o caminho para tanta gente”. Pensei: foi para isto mesmo que ela veio!
Do que sei, sua família lhe deu bases humanas e cristãs luminosas: refinada educação, nobreza de caráter, amor à arte, espírito de liderança, determinação, criatividade e um coração de sensibilidade infinita.
A Congregação Religiosa das Missionárias de Jesus Crucificado, cujo carisma é ser presença no meio do povo, na prática da mansidão com doçura e firmeza, intensificou em Mary tal luminosidade. Aproveitou seus talentos, confiou-lhe cargos de responsabilidade e destinou-a à diocese de Osasco. Ali ela brilhou na pastoral e, intensamente, por muitos anos, irradiou luz e apontou caminhos para a catequese de todo o Brasil e além, com inúmeros livros, subsídios e assessorias, sempre preocupada em aliar qualidade e simplicidade.
Se é verdade que “os amigos nos tornam herdeiros”, nós da equipe ECOando somos donos de um tesouro. Partilhamos com os catequistas do Norte ao Sul do Brasil de um legado comum e ainda temos o privilégio de dar continuidade à pupila dos olhos da Mary, a Revista ECOando.
Em 1998, não titubeou em aceitar o convite da Editora Paulus para coordenar um projeto de formação interativa com catequistas - folhetos simples, populares – batizado de ECOando. Mesmo de natureza autônoma e independente, Mary não procurava brilhar sozinha, sabia envolver muitas pessoas na sua ação. Assim, ela nos tornou herdeiras(os).
Vou levar o resto da vida para responder por que Ir. Mary Donzellini veio, tamanha é minha dívida e gratidão para com esta querida amiga, que agora celebra e goza do mistério que sempre, ao longo da vida, fez ecoar com sua vida e ação.
Tenho certeza de que isto acontecerá com muitos e muitas a quem ela “viu, sentiu compaixão e cuidou” com suas atenções, interesse e carinho e contagiou com o vírus do amor e da misericórdia.
Mary, como estrela amiga, desaparecendo aos nossos olhos e se encontrando com a Luz infinita de Deus, interceda por nós e nos fortaleça neste bonito caminho da catequese. Se na sua luz nós pudemos ver a LUZ, continue a nos iluminar, proteger e a nos conduzir à bondade de Deus, porque a luz da sua estrela não está se interrompendo, mas adquirindo pleno brilho.
Com carinho,
Marlene Maria Silva e Equipe ECOando
24 de março de 2020
Catequese não é só um discurso para instruir os que ouvem, é um contato pessoal onde catequista e catequizandos partilham experiências e vão crescendo juntos. É claro que, para ser catequista, a pessoa tem que estar bem preparada, comprometida com Jesus, familiarizada com as Escrituras, a liturgia, a vida da Igreja e as necessidades da humanidade que Deus ama como bom Pai. Nunca se pode dizer que alguém já completou sua formação de catequista, da mesma forma que não se pode admitir que uma pessoa já tem tanta experiência de vida que nem precisa aprender mais nada.
Há muitas formas de aprender que trazem consequências para a nossa catequese. Temos que estudar a Bíblia, conhecer as orientações da Igreja, crescer na oração, desenvolver uma espiritualidade cada vez mais profunda, ligando Deus e a vida. Isso não é só uma obrigação que nos leva a ser catequistas melhores. Aprender, em todas as áreas construtivas, capazes de nos tornar melhores, é uma das aventuras mais emocionantes da vida. Ninguém precisa nos recompensar por isso porque, mesmo antes de comunicar o que aprendemos, já estamos ganhando. Acontece aí algo mais ou menos parecido com o que os judeus costumam dizer sobre a familiaridade com a Lei do Antigo Testamento (que chamam de Torah): A maior recompensa por cumprir a Torah é cumprir a Torah.
Mas não aprendemos só estudando, lendo, meditando, orando, procurando os que são considerados “mais instruídos”. Podemos aprender também bastante conhecendo e ouvindo nossos catequizandos e outras pessoas a quem estamos ensinando algo. Pessoas bem simples podem ter uma visão de vida capaz de nos esclarecer e, se soubermos ouvi-las, podemos aprender e até corrigir nosso modo de ensinar. Quando penso nisso, lembro logo duas situações vividas ao longo do meu trabalho catequético.
Uma aconteceu bem no começo. Eu falava dos dias da criação com muito sensacionalismo. Mandava a criançada fechar os olhos e abri-los quando eu lia a frase: Faça-se a luz. Falava da criação da vida como se vegetais e animais tivessem brotado do nada, só a partir da voz de Deus. Um dia, um garotinho de 8 anos me disse, com uma carinha desanimada: Que pena que Deus não faz mais essas coisas... Então me contou que tinha plantado e regado no quintal um caroço de abacate porque gostava da fruta e queria comer mais. A mãe lhe disse que não adiantava fazer isso porque a árvore levaria anos para crescer e ele não estaria mais ali quando os abacates surgissem. Então ele concluiu: Se fossem abacates feitos por Deus, do jeito que você ensina, eu já estaria comendo eles hoje... Percebi, então, que o meu jeito de falar de falar da criação estava apresentando Deus “ausente” do mundo cotidiano natural. A partir desse dia, falei da criação de modo diferente. Passei a levar as crianças para ver a natureza “normal” e juntos agradecíamos a Deus pelo mundo maravilhoso que Ele nos deu. Percebi também que, muitas vezes, nos livros que tratam da “Bíblia para crianças” , havia interpretações bíblicas que atrapalhavam mais do que ajudavam porque apresentavam tudo ao pé da letra e iriam ser rejeitadas quando as crianças crescessem.
Outro episódio marcante aconteceu bem mais tarde, quando eu trabalhava com adultos de muito pouca escolaridade numa comunidade pobre. Eu estava estudando com eles um documento da CNBB e, como não conheciam bem o que era isso, eu apresentava cada declaração do texto iniciando assim a frase: A Igreja do Brasil disse... Então um senhor me perguntou: Ó dona, eu moro no Fumal, que fica em Luziânia, que fica em Goiás, que fica no Brasil... Então, que Igreja do Brasil é essa que não é eu? Parei, pensei no que ele estava me ensinando, pedi desculpas pelo meu modo de falar, expliquei que o documento fora escrito pelos bispos para toda a Igreja do Brasil, na qual, é claro, eles todos estavam incluídos. Depois disso, cada vez que precisava explicar alguma coisa, em qualquer comunidade, passei a ouvir primeiro como as pessoas se sentiam diante de assunto a ser tratado e a indagar como entendiam o que eu estava dizendo. E compreendi que também tinha muito a aprender com a experiência de vida de cada pessoa a quem eu me dirigia.
Percebendo essa possibilidade de aprender e ensinar , vivida com todos que estão ao nosso redor, vamos enriquecer nossa experiência de vida e nossos relacionamentos. Um catequizando que se sente ouvido e valorizado vai participar da catequese com muito mais entusiasmo, alegria e vontade de crescer. E nós também vamos crescer junto com ele entendo melhor a vida a cada dia e agradecendo a Deus pelas pessoas que têm algo a partilhar conosco. Catequese é um serviço de mão dupla: falamos e ouvimos, damos e recebemos, ensinamos e aprendemos, acolhemos e somos acolhidos, ajudamos e somos ajudados, conhecemos e nos damos a conhecer, oferecemos e recebemos bons exemplos. Louvado seja Deus que nos chamou a uma missão tão gratificante!...
Therezinha Motta Lima da Cruz
foi assessora nacional de catequese e é autora de vários livros de catequese e ensino religioso
Catequista não é simplesmente alguém que tem uma função na Igreja, é uma identidade que marca a personalidade de quem nisso se envolve. Não é apenas algo que fazemos, é uma característica da pessoa que somos. Por isso, tem a ver com todos os momentos da nossa caminhada e não apenas com aqueles horários em que estamos “fazendo catequese”. Vai ser catequista quem se apaixona pela dimensão de ensinar e aprender dentro da experiência do encontro permanente com Jesus e da alegre sensação de ser Igreja. Com essa característica começamos a nos preparar para ser a imagem e a voz da Igreja. Jesus se apresentou como o Caminho, a Verdade e a Vida. Mergulhados nele vamos mostrar esse Caminho, comunicar essa Verdade, para que nós e os outros nos sintamos a serviço da Vida que realmente Deus quer para nós.
Isso, é claro, exige uma permanente preparação, não só em termos de conhecimento, mas também de experiência de vida e participação na Igreja. Pensando assim, podemos lembrar uma cena bem comunicativa, que encontramos em Atos dos Apóstolos 8,26-40: o encontro de Filipe com o eunuco etíope que queria entender a Palavra de Deus exposta num texto do livro de Isaías. O etíope tinha peregrinado até Jerusalém e vinha sentado no seu carro lendo a Escritura. Filipe, impulsionado pelo Espírito, vai até ele e pergunta: Compreendes o que estás lendo? O outro responde também com uma pergunta: Como poderia se ninguém me orienta? E aí Filipe sobe no carro e vai ajudando o etíope a entender que em Jesus se realizava o que ali se anunciou, a ponto de deixá-lo decidido a ser cristão e querendo ser batizado com firmeza de convicção. Filipe conseguiu fazer isso porque vivia intensamente a experiência de ter colocado Jesus em sua vida, de ser orientado pelo Espírito Santo e de fazer parte do início do que hoje chamamos Igreja.
Hoje temos muitas pessoas que ouvem falar de certas partes da Palavra de Deus, ou de práticas religiosas mas não entendem de fato o que isso significa porque “ninguém os orienta”. Filipe conseguiu orientar o etíope, fez com que ele mudasse de vida. Mas só deu conta dessa tarefa porque estava bem preparado: conhecia a Escritura, vivia a experiência de ter Jesus em sua vida e se via como parte do cristianismo nascente.
Catequista é alguém com capacidade de apresentar Jesus, não só como um conhecimento teórico e histórico, mas como algo que vai fazer diferença na vida das pessoas, porque já fez diferença na sua. Para isso, é claro, tem que conhecer a história e os ensinamentos de Jesus. Mas isso não basta porque ser cristão não é só saber o que é a tal “história da salvação” centrada em Jesus. O saber se torna parte da formação de quem é catequista quando interfere em suas escolhas, faz parte da sua vida e constrói na pessoa uma verdadeira identidade moldada pelo seguimento de Jesus.
Jesus deu aos discípulos a missão de levar adiante a Boa Nova que ele anunciou e viveu. Fez deles seus representantes no meio de tantos povos que não o tinham conhecido pessoalmente mas que agora podiam colocá-lo como fonte de suas vidas e levar adiante o que ele veio trazer. Era a Igreja nascendo. E foi a Igreja que espalhou no mundo a mensagem e a presença de Jesus. Hoje ser catequista exige o empenho de ser Igreja. Isso não é só estar no templo, participar de celebrações, ter alguma tarefa pastoral. É se perceber como sinal vivo dessa grande comunidade encarregada de comunicar Jesus.
E agora, tantos séculos depois, temos situações diferentes que precisam ser iluminadas com a mensagem do Evangelho, temos pessoas que precisam descobrir na vida de Jesus o amor inesgotável de Deus, que veio viver e sofrer por nós e quer ver todos os seus filhos vivendo bem numa grande família solidária.
Comunicar e estimular isso é a missão da Igreja e, consequentemente, da catequese. Quem é catequista fala em nome da Igreja. E aí alguns poderiam fazer uma pergunta no estilo daquela que o etíope fez a Filipe: Como vou falar em nome da Igreja se nem sei o que ela quer que eu diga? Conhecer a Bíblia é fundamental, mas até ai temos que ouvir o que a Igreja diz porque esse livro não é assim tão fácil de entender e a Igreja nos dá muitas orientações para uma leitura adequada da Escritura. Mas será que conhecemos essas orientações? Que tal procurar sempre conhecer os documentos da Igreja que falam sobre isso?
Se vamos falar em nome da Igreja temos que saber também o que ela diz sobre sua própria missão (e, é claro, sobre a catequese), como é o rosto que ela quer ter. Seria grave dizer em nome da Igreja o contrário que do que ela está querendo ver anunciado. Somos a voz e o rosto da Igreja . Então temos que saber o que ela ensina sobre o mundo, sobre o diálogo inter-religioso e ecumênico, sobre a liturgia, sobre a leitura bíblica, sobre a missão, sobre a justiça social, sobre nosso papel de catequistas... e muito mais. São muitos os documentos da Igreja? É verdade. Mas à medida que os conhecemos vamos alicerçando nossa identidade de catequistas e exercendo nosso ministério com mais firmeza e fidelidade.
Como anda sua intimidade com os documentos da Igreja? O documento 107 da CNBB, sobre Iniciação á Vida Cristã, traz boas reflexões e orientações para a catequese. As cartas do papa também são importantes, como a Gaudete et Exsultate, bem recente. Outro documnto fundamentl é A interpretação da Bíblia na Igreja. Se você ainda não leu esses e outros testemunhos da voz da Igreja, que tal começar? O etíope disse que precisava de orientação... E nós? Com certeza vale a pena...
Therezinha Motta Lima da Cruz
Catequéta, autora de vários livros de catequese e ensino religioso.
02.03.2020
MINHA CATEQUISTA
Fabrício Carpinejar (18/12/2009)
Intelectual traz o ateísmo como pré-requisito. Confiar em Deus é sinônimo de ingenuidade, de burrice, de falta de conhecimento histórico.
Parece que estamos sendo enganados, no fundo do poço e nos agarramos no desespero da reza. Entre os amigos incrédulos, é previsível que pintará Darwin na discussão para mostrar que a Bíblia não aconteceu. Concordo que a Bíblia não aconteceu, é uma parábola, ela está acontecendo sempre. Agora, por exemplo.
Eu acredito em Deus, posso perder os leitores antes do sermão. ACREDITO. Porque tive uma catequista, Ester, que acreditou em mim.
Só acredita em Deus quem um dia foi acreditado.
Ester não me obrigou a colocar agulha no coração de Jesus, a purgar confissões de joelhos, não dobrou a culpa pelos meus pecados, não retorquiu minhas distrações, não censurou minha liberdade de ação, não me pediu para não morder a hóstia, nem me coibiu a não pensar bobagens. Ela me aceitou inteiramente, como sou e não sou. Ela me convenceu com uma única virtude (e tinha várias): o senso de humor.
Nunca conheci alguém com tamanha gentileza. Ela falava baixinho e sorria para explicar passagens dos evangelhos. Eu me aproximava para ouvi-la melhor. Ouvir mais o riso do que a voz. Seus olhos se apequenavam, chineses, cordiais, antecipando a gola branca da primeira comunhão.
Não era inquisidora. Não abria inquéritos dos defeitos. Havia uma leveza que não existe no moralista.
Eis o grande problema do moralista: ele não ri. Repare. É azedo, carrancudo, quer nos passar a limpo, não se duvida em nenhum momento, age como um exterminador dos erros, um desfragmentador de disco. Quem não ri não inspira confiança, sugere uma vida mesquinha e ingrata, com as escolhas decididas pelo medo.
E Ester é feliz. Feliz com os filhos e netos. Feliz com as suas amizades. Feliz à toa como um grão de mostarda tingindo o bico de um pássaro. E não disputava para ser mais certa do que uma criança de sete anos. Não me inferiorizava com sua sabedoria e suas metáforas, ela me incluía em sua fé.
Preservo a inocência auditiva daquela época, não duvido do invisível da infância.
No momento em que uma criança diz enxergar fantasmas, duendes, gnomos e amigos imaginários, os pais têm o hábito de duvidar da veracidade, caçar ajuda médica, recorrer à assistência escolar, não dormir jurando que é um problema de personalidade. Além de alegar que essas coisas não existem, questionam o valor da própria imaginação.
O ceticismo adulto desestimula que o pequeno supere as aparências, que enriqueça o cotidiano com mistérios e poesia. Bloqueia a fantasia logo no esplendor de sua espontaneidade, como a provar que somente importa o que é real e o que pode ser comprado.
Evidente que o filho não vai acreditar em Deus, o grave é que não vai acreditar em si.
Fabrício Carpinejar é poeta e escritor.
(nota: este artigo foi publicado em 2009, mas diante do novo texto do Fabrício Carpinejar sobre o falecimento da sua catequista, resolvemos postar aqui também este texto).
ESTER JOSEFA LIBERALI MAGAJEWSKI
Fabrício Carpinejar
Minha catequista morreu, aos 96 anos, em Porto Alegre (RS). Poderia dizer que ela estará com Deus. Mas não seria uma verdade: ela sempre esteve com Deus.
Numa época em que as famílias já não fazem questão de colocar as suas crianças no catecismo e partilhar dos sacramentos da Igreja, eu posso garantir que não seria quem eu sou se não tivesse conhecido Ester.
Tinha sete anos, problemas sérios de dicção, dificuldades de aprendizado, botas ortopédicas com ferro nas pontas, de repente essa senhora mansa e gentil apareceu em minha vida, na igreja São Sebastião, como um anjo de vestido escuro, e entendia tudo o que eu queria dizer. Não precisava repetir nada. Não me sentia estranho, gago, falho em sua presença. Eu fluía, eu existia plenamente. Foi a primeira vez que eu me vi capaz. Capaz de ser eu mesmo.
Ela não pretendia curar a minha tristeza, mas demonstrou o único antídoto que existe para ela: dar companhia. Não me deixou sozinho sofrendo. Nunca mais fui sozinho no sofrimento.
Sua voz envolveu o meu coração, como uma almofada, protegendo-me do bullying. Eu não me desesperava mais, pois ela me explicava a emoção. Emoção explicada para de doer.
Ainda a escuto me esclarecendo que quem parece mais fraco, no fundo, é mais forte, porque não se esconde da sensibilidade. Só chora quem tem coragem de também falar pelos olhos.
Sabe aquelas pessoas que surgem quando a sua confiança está por um fio, um fio solto, e não puxam o tecido para fora, esgarçando ainda mais o conjunto da personalidade, mas o guardam para dentro da roupa? Era ela: Ester Josefa Liberali Magajewski.
Era ela, uma Bíblia andando pelo bairro Petrópolis. Um livro de capa dura com papel de seda por dentro. Firme e forte na aparência, e uma doçura no interior, leve e sorridente na hora de folhear com a ponta dos dedos.
Seu abraço tinha o poder curativo de uma benção. Quando pequeno, eu abraçava o seu ventre. Renascia em seu colo de camomila.
Usava brincos para lembrar de ouvir antes de julgar. Mantinha algum peso nas orelhas de propósito.
Ela entra nesta terça (11/2/2020) na árvore de um caixão, para encher de pássaros o cemitério João XXIII. Todos que a amaram são pássaros (filhos, netos, alunos). Dorme agora ao lado de seu marido Casemiro. De mãos dadas com a sabedoria.
Publicado no jornal Zero Hora, GaúchaZH, 11/02/2020
Fabrício Carpinejar é poeta e escritor.
A fé não me dá certezas. Desde que me lembro acho que nunca me deu nada. Pediu-me sempre que descobrisse e que me deixasse descobrir. Apontou, mas nunca finalizou. Esta sempre foi uma das suas artes: despontar, enamorar e depois deixar que o caminho nos vá revelando que nunca teremos tudo revelado.
A fé não me dá certezas. No máximo vai-me deixando confiar. Dá-me a conhecer que a espera é caminho continuado e confiado numa medida desmedida. Faz-me perceber que não se avança com respostas, mas com perguntas. Permite-me sair de mim. Ir ao encontro e muitas vezes proporcionando desencontros para que me volte a reencontrar e a dirigir, uma e outra vez, ao mesmo destino.
A fé não me dá certezas. Dá-me caminhos novos todos dias. Retira-me a segurança e atira-me ao risco para que arrisque tudo o que tenho. A fé dá-me tudo não possuindo nada e mostra-me que só vejo, verdadeiramente, quando me deixo ser visto sem máscaras, nem medos.
A fé não me dá certezas. Dá-me ruas sem saída e em troca oferece-me um céu sem limite. Leva-me a questionamentos sem fim e mergulha-me no silêncio das minhas noites. Pede-me que entregue a minha vida à loucura do amor. Dando-me mais. Alargando-me por completo e deixando que tudo o que sou e faço seja uma verdadeira oração.
A fé não me dá certezas. Coloca-me no desconforto. Não me permite que deixe de viver. Pede-me sempre mais num descontentamento que me leva a um total comprometimento.
A fé não me dá certezas, mas ofereceu-me o melhor das minhas incertezas: saber que Ele sempre será a minha firmeza!
Emanuel António Dias
In: imissio.net
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
Mais abaixo, um homem lá soprava, com a máquina, as folhas que se amontoavam no meio do passeio para alguém de seguida as recolher.
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
E pus-me a pensar que também nós, quantas vezes ficamos amontoados em problemas ou chatices que parecem não ter resolução.
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
Quem sabe nos falta apenas a coragem de olhar de frente e saber limpar as nossas avenidas e ruas interiores, sem soprar as folhas e deixá-las amontoadas, mas arrumá-las no lugar que lhes pertence.
Não passemos ao lado dos pedaços de vida que nos compete arrumar, bem arrumados.
E assim as nossas avenidas e ruas interiores estarão mais limpas e abertas para que outras vidas passem por nós, mas não passem ao lado.
Cristina Duarte
In: imissio.net 31.10.2019
Não me proponho aqui discutir o dogma da infalibilidade papal, proclamado em 1870 pelo Concílio Vaticano I, nem tampouco avaliar os 264 papas que sucederam ao apóstolo Pedro, escolhido pelo próprio Cristo como primus inter pares, isto é, o primeiro entre os discípulos, com a missão de conduzir a sua Igreja e confirmar na fé os irmãos que, doravante, se uniriam aos demais (cf. Lc 22,32). Lugar de juiz pertence a Deus! No entanto, não é difícil perceber, mesmo numa releitura rápida da história da Igreja que, não obstante a Igreja seja assistida pelo Espírito Santo e nenhum mal possa contra ela (cf. Mt 16,18), o lado humano de seus líderes (e de todo o povo!), vez ou outra, coloca obstáculos à ação de Deus.
Conviver com a vulnerabilidade dos papas sempre foi um desafio para os cristãos e o mundo, o que não significa que não possam ser infalíveis quando se pronunciam ex cathedra ou em comunhão com os demais bispos a respeito da fé e da moral cristã católica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 891). Faz parte da humildade de um chefe supremo da Igreja reconhecer seus limites e saber que precisa do discernimento do Alto até mais que do que os fiéis, pela grandeza de suas incumbências. É como disse o papa emérito Bento XVI, em julho de 2005, por ocasião do lançamento de seu livro Jesus de Nazaré: “O papa não é um oráculo, é [somente] infalível em situações raríssimas”. Ou mesmo nosso querido papa Francisco, quando um jornalista o questionou o porquê de ele falar muito sobre os pobres, mas relativamente pouco sobre a classe média: “Você está certo. É um erro meu não pensar nisso”, e “você está me falando sobre algo que preciso fazer. Preciso ir mais fundo nisso”. Não é à toa que ele sempre pede ao povo que reze por ele!
O que desejo, no entanto, é chamar a atenção para outro aspecto, talvez mais relevante que os debates sobre privilégios papais: a importância de caminharmos como Igreja e com a Igreja, o que inclui estar com nossos papas. A Igreja, antes de ser uma instituição humana, é um mistério de fé. Nascida do lado aberto do divino Esposo pendente na cruz (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 766), ela permanece no mundo até a sua vinda definitiva como sinal e instrumento a serviço da salvação da humanidade. “Creio a Igreja santa”: é a maneira que o Símbolo dos Apóstolos encontrou para dizer que, mais do que nas obras da instituição, cremos no mistério da Igreja como dom do Alto e assistida pelo Espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 750). Essa Igreja não se reduz à sua hierarquia, mas é a comunidade dos iniciados na fé cristã, Povo de Deus chamado a testemunhar os valores do Evangelho e conduzido por aqueles pastores colocados à sua frente pelo próprio Jesus, o Pastor dos pastores.
A caminhada do Povo de Deus nunca foi feita sem sobressaltos. E mais uma vez recorremos à história para recordar o quanto já titubeamos nessa trajetória bimilenar. Assim será até o fim, pois o caminho ainda não é o horizonte nem o mar ainda é o ancoradouro. O Reino definitivo inaugurado pelo Senhor supera em muito a própria Igreja, mas conta com ela para sua chegada a cada coração humano e ao cerne de cada cultura e sociedade, para que ali comece, no passageiro, o que se anuncia como definitivo para além da história. Querer uma Igreja perfeita é perder a noção de que ela é ponte e não porto!
Nesta nossa trajetória, quis o Senhor que tivéssemos à nossa frente as figuras dos papas como sinais a apontar a direção e garantia da unidade do povo em marcha. Como uma só família irmanada no amor do Cristo, um pai (papa) nos é dado como testemunha de fé e memória do Evangelho. Suas palavras e ensinamentos – e, sobretudo, o seu modo de vida! – sempre atentos às demandas de cada época, são para nós indicações preciosas de como viver, no hoje da vida, a Palavra divina que dá a vida e liberta todo ser humano. Estar com os papas, portanto, é estar com a própria Igreja de Jesus Cristo, na tentativa de fidelidade ao seu projeto. É ter diante de nós a autoridade legitimamente constituída, querida por Jesus, a quem devotamos o obséquio do nosso respeito e a sinceridade de nosso amor.
O papa Francisco é o autêntico sucessor de Pedro, como o foram os outros papas. Seu agir, profundamente enraizado nos Evangelhos é, para nós, memória do agir de Jesus Cristo e apelo contínuo à conversão. Seu olhar misericordioso e atento às dores das minorias e aos clamores dos mais pobres e sofredores é a resposta de Deus a uma humanidade marcada pela dor e pela carência de afetos que curam. Suas palavras simples e profundas chegam muito depressa aos corações daqueles aos quais ninguém quer dirigir a voz. Mas seu profetismo também ecoa em nossas consciências adormecidas e mal acostumadas à indiferença pelo ser humano e pela casa comum da criação. Sua denúncia da idolatria – a mesma feita por Jesus – incomoda a todos nós, especialmente àqueles que há muito se renderam ao capital e a seu séquito de ídolos que ferem a dignidade humana. Por isso, ele é perseguido, do mesmo modo que Jesus o foi até à morte escandalosa na cruz, punição definitiva aos rebeldes e agitadores sociais.
Infelizmente, até mesmo católicos acusam-no de “esquerdista”, “comunista”, “progressista” e tantos outros chavões descontextualizados e vorazmente repetidos, os quais, no fundo, encobrem a única e mesma verdade: a vergonha que seus opositores sentem por não darem conta de amar como ele ama, isto é, de amar como Jesus amou! O escândalo que Francisco provoca não é primeiramente contra a ortodoxia (correta doutrina) da Igreja, mas por apresentar uma ortopráxis (correta ação) profundamente evangélica, coisa há muito esquecida pelos que querem defender a “cátedra de Moisés” contra a insurreição do amor que clama que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Então ele é um santo? Certamente está a caminho, como deveríamos também estar! Ele não erra? Igualmente a seus predecessores e a todos nós, tem suas falhas, das quais não se abstém de reconhecer e de se retratar.
No entanto, Francisco é nosso papa! Gostando ou não gostando do seu estilo, devemos-lhe respeito e amor filial. Ele não tem errado. Mas, se ele errar, erraremos com ele; isso sempre fez parte da história da nossa Igreja, santa e pecadora. E o Espírito sempre mostrou o caminho da restauração! São João Paulo II ou Bento XVI nunca erraram? Obviamente que sim! E estávamos com eles, compreendendo que a fé exige também caminhar na penumbra muitas vezes, como devemos estar com o papa Francisco. Ou será que a nossa presunção de sabermos mais do que o papa (e de quase cem por cento dos bispos católicos do mundo que estão com ele) nos levará à vaidade de nos acharmos os donos da verdade? Afinal, acreditamos ou não que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo, que “sopra onde quer” (Jo 3,8)?
Pe. Vanildo de Paiva
Mestre em Psicologia, especialista em Catequese e Liturgia e professor da Especialização em Catequética da PUC-MG
15.10.2019
Imagem: site do Vaticano
Passamos a vida (e o tempo) à espera. À espera que a sorte mude. À espera que o vento não seja tão frio. À espera que nos devolvam a chamada. À espera que se lembrem que existimos. À espera que nos atendam num balcão, numa fila, numa loja. À espera do amor-para-sempre. À espera da oportunidade que nos mude a vida. À espera do momento certo para começar a fazer tudo como deve ser. À espera que nos peçam desculpas. À espera que nos perdoem. À espera do Verão. Dos dias de sol e do calor a tostar a pele. À espera que a maré desça para não perdermos o pé. À espera que o país fique melhor. À espera que se acabem os dias tristes. À espera que se acabem as dívidas (as financeiras e as outras). À espera que nos apreciem, apenas, por aquilo que somos e não por aquilo que podemos oferecer. À espera no trânsito que não anda. À espera do verde que não cai. À espera da felicidade que os romances mais bonitos nos prometeram. À espera do jantar, no restaurante. À espera que o arroz fique no ponto. À espera que se acabe a fome nos lugares mais sujos e mais recônditos do mundo. À espera. De tudo. De todos. De tanto.
No entanto, enquanto esperamos, podemos aprender lições valiosas: a lição (duríssima) da paciência. A lição da humildade de quem sabe estar no seu lugar e esperar pela sua vez. A lição de deixar acontecer cada coisa na janela do seu tempo. A lição de valorizar o futuro que espreita de mansinho e que não se impõe.
Precisamos muito de aprender a esperar melhor. Com mais alegria. Com mais paciência. Com mais coragem. Ninguém gosta de esperar. É sempre tarde para quem está à espera. E é sempre difícil deixar que o tempo passe sem nos aborrecermos com ele. E com a sua velocidade-tartaruga.
Aprende a esperar, mas aprende, também, o momento certo para deixar de o fazer. Quem decide esperar para sempre deixa de estar à espera e passa a ser refém de uma promessa que pode não se cumprir.
Aprende a esperar. Aprende a esquecer. Aprende a colocar ponto final e a fazer parágrafo.
Estás à espera de quê?
Marta Arrais
In: imissio.net 9.10.2019
Missão não é fácil, não é simples. Missão não se trata de ser forte, trata-se de ser capaz de sermos frágeis. Trata-se de sermos capazes de sermos frágeis e vulneráveis. Trata-se de assumirmos as nossas dores, cicatrizes e defeitos. Trata-se da nossa capacidade de vestirmos, com coragem e com todo o nosso coração, a nossa vulnerabilidade. Mesmo com medo e com insegurança. Mesmo achando que não somos perfeitos e que nunca vamos chegar, que nunca vamos conseguir. Mesmo que todos os outros pensem que vamos desistir, que não vamos aguentar.
Ser missionário é ser inteiro é ser errante e imperfeito. É ser insuficiente para nós e talvez até para os outro mas nunca para Deus. É ser de menos para o mundo mas não para Deus. É ser imperfeito para o mundo mas não para Deus. É reconhecer que Deus precisa de mim na minha imperfeição, vulnerabilidade e fragilidade, que Deus precisa de mim tal e como sou. Deus precisa de mim como humana frágil capaz de tocar a fragilidade, a dor, e o sofrimento do mundo. Deus precisa de mim, de ti e de nós sem medo de arregaçar as mangas e amar sem medida. Deus precisa de nós capazes de amar cada pessoa tal e como é. Precisa que sejamos capazes de nos vermos como humanos e irmãos na dor e no sofrimento. Precisa de nós capazes de reconhecer que o nosso Deus é um Deus ferido. Precisa que nos lembremos sempre de ver na pobreza, nas feridas, nos erros e nas imperfeições caminhos para o amor e para a misericórdia.
Talvez tal como nos diz Jana Stanfield não possamos fazer todo o bem que o mundo precisa mas o mundo precisa de todo o bem que possamos fazer sabendo que cada pedacinho do bem que semeamos faz a diferença na minha, tua e nossa vida. Sabemos que somos nós quem nos salva a nós próprios e aos outros. Sabendo que o destino do mundo, do amor e do bem está nas nossa mãos e na nossa capacidade de nos amarmos uns aos outros. O mundo precisa de seres humanos missionários capazes de amar o mundo tal e como é. O mundo precisa de pessoas capazes de amar cada pessoa na sua vulnerabilidade tal e como é.
Paula Ascenção
In: imissio.net 23.09.2019
O mais certo é cada um e cada uma de nós acordar de manhã e entrar na rotina dos dias, sem muito tempo para pensar como vai e como pode acontecer a nossa vida.
Porém, muitas vezes somos surpreendidos e a vida é moldada por medos que entram dentro de nós sem pedir licença e sem data certa para se retirarem. Alguns, são reflexo do mundo em que vivemos e face a situações semelhantes pensamos que o mesmo nos pode acontecer e aí nasce o medo. Outros, são criações da nossa cabeça, em pensamentos que custam disciplinar. Muitas vezes já nem é das situações reais ou imaginadas por nós que nos escondemos. Escondemo-nos do próprio medo.
A verdade é que o medo pode tolher-nos a vida, desde os reais aos irreais, preenchendo – e muito – o tempo da nossa cabeça e fazendo-nos acreditar que a vida acontecerá de determinada forma, quando, muitas vezes, o seu alinhamento vai noutro sem que queiramos e consigamos ver, mas que no entanto é o mais positivo.
É aqui que entra a fé, essa senhora madura e que nos traz a serenidade necessária para podermos conviver com todos os acontecimento, previstos e não previstos, e tratar com cuidado e sabedoria os rasgões deixados pelos traumas criados pelo medo.
A vida não é isenta de tempestades, mas ainda assim, nestas precisamos de navegar com a firme certeza de que Alguém nos conduz e quer o melhor – só o melhor – para nós. Quanto tempo falta para a tempestade acalmar ou terminar? Não sabemos. Em períodos da vida, muitas vezes umas sucedem-se a outras sem que haja grandes tempos de grande bonança. Ainda assim, é a fé que nos move a remar com confiança e a saber que chegaremos a bom porto. É que esse Alguém que pensamos que nos espera do outro lado da tempestade, já rema connosco. E é a fé o que nos ajuda a colocar todos os acontecimentos em perspectiva.
A um dado momento da nossa vida questionamo-nos se temos consciência de quem somos. Nem que seja pela comparação que fazemos entre a nossa vida e a dos outros, ou procurar na vida dos outros uma validação para a nossa. Medimos o impacte que os nossos pensamentos, ou momentos, têm pelo número de “Likes” ou corações, mas esse estilo de pseudo-introspecção apenas faz de nós um número. Mas os números não nos definem.
O que nos define são as escolhas.
Aprendemos mais com os processos do que com os resultados e uma das escolhas para iniciar processos é ser curioso.
Se escolheres ser curioso, o caminho percorrido não é confortável, a marcha é lenta, mas com o tempo adquires a consciência do novo que se gera à tua volta , bem como o que a tua curiosidade pode gerar de novo. Dar esse passo coloca-te numa situação de vulnerabilidade. Mas também essa pode ser uma escolha.
Se escolheres ser vulnerável, o caminho percorrido é o da coragem, embora não seja óbvia a razão. Ser vulnerável implica ser o primeiro a entrar em campo; numa reunião, levantar a mão e fazer a primeira pergunta, independentemente de ser ou não inteligente. Pois, o impulso não provém daquilo que sabemos, mas da escolha anterior em ser curioso.
Porém, talvez nem sempre sejam as nossas escolhas que definem o que somos, mas as circunstâncias. Em 1994, uma jovem mulher pede o divórcio, fica sem emprego e com pouco dinheiro para viver tem uma filha bebé para criar. A mãe dessa jovem mulher tinha morrido uns anos antes e ela não falava com o seu pai há anos. Batalhava com a depressão e estava à beira do suicídio. Dizia de si mesma ”sou o maior falhanço que conheci.” Hoje, essa mulher é multi-milionária e conhecemo-la como J. K. Rowling.
Qual a escolha que a tornou naquilo que é? Um passo foi assumir que a culpa não é sua, mas a responsabilidade sim. Ninguém pede ou deseja as dificuldades que tem na vida. E nem todos temos uma história de sucesso como J. K. Rowling, mas uma vida caracterizada por uma luta diária, dia após dia. Por vezes sentimo-nos limitados nas escolhas, mas a única limitação é a que impomos a nós próprios. O que falta?
Falta confiar.
Em Deus, em ti, nos outros e na novidade de cada dia.
Confia em Deus que está sempre contigo.
Confia em ti sabendo que ninguém é escolhido enquanto não se escolher a si mesmo.
Confia nos outros porque a vida é relacional e a verdadeira coragem está na escolha da vulnerabilidade.
Confia na novidade de cada dia porque és curioso e, por isso, atento. Logo, quem sabe qual a surpresa que amanhã não transformará os teus sonhos em realidade.
Miguel Oliveira Panão
In: imissio.net 5.09.2019
Neste domingo (25/08/2019), celebramos o Dia do Catequista. O nosso dia! É o nosso momento de também agradecer a Deus pelas maravilhas que Ele nos dá e nos possibilita enquanto “dom”. Torna-nos sinal visível da missão da Igreja, fazendo-nos divulgadores da fé, anunciadores da Palavra que, com sua força, realiza o seu papel de suscitar em nossos corações a fé e o compromisso missionário. E, ao mesmo tempo faz ecoar, no coração de nossos catequizandos, o amor de Deus, constituindo-os não só bons cristãos, mas ajudando-os a aprofundar sua própria identidade cristã. Nesse sentido, a catequese é um pilar para a educação da fé.
Lembrando o Papa Francisco, também catequista, ele diz que “Ser catequista é vocação e que devemos exercer essa nossa função deixando-nos ser conduzidos ao encontro com Jesus, com as Palavras e com a vida, com testemunho”.
O Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, chama-nos de “pérolas”. Envia aos catequistas uma mensagem dizendo: “Catequista, você é uma pérola especial e um tesouro para Deus e sua amada Igreja. A sua singular vocação foi gerada no coração de Deus Pai, para que pudesse chegar aos corações dos seus filhos e filhas com a mensagem da vida – Jesus Cristo. Catequista, você não é apenas um transmissor de ideias, conhecimentos, doutrina ou, mais ainda, um professor de conteúdos e teorias, mas é um canal da experiência viva do encontro intrapessoal com a pessoa de Jesus Cristo”.
Nossa missão de levar e testemunhar a mensagem de Jesus Cristo
A catequese não oferece apenas conhecimento das coisas sobre Deus, mas nos possibilita fazer experiência pessoal com Deus. O encontro com Jesus Cristo nos encanta, nos motiva e nos tornam fascinantes. Nós somos pessoas entusiasmadas de Deus. Quanto mais nos deixamos entusiasmar por Jesus, dar a ele lugar em nossa vida, tanto mais ele nos fará sair de nós mesmos, descentrar-nos e nos aproximar dos outros.
Em nossa caminhada, Jesus é o pão da vida que nos alimenta. Ele faz com que nós, catequistas, sejamos pão para os outros. Para anuncia-lo, primeiro vamos conhecê-lo, Alimentar-se d’Ele, nos ajuda a redescobrir nossa verdadeira riqueza interior e a fazer experiência de fé, para então testemunha-lo. Jesus, fazendo-se “pão partilhado” nos ensina a gerar vida, ou seja, ele nos move para que nossa vida seja “alimento substancioso” para que outros tenham vida. “Toda vida é Pão. E a vida humana é um mistério de autotransformação” (D. Jose Tolentino).
A pessoa humana é um mistério. Chamados a adentra-se no conhecimento desse mistério, enfrentamos o desafio de ser iniciado num novo estado de vida: a vida numa comunidade. Nessa nova vida somos chamados a mergulhar nas riquezas do Evangelho, iniciar-se a nós mesmos e aos outros na vida da comunidade cristã, para participar da vida divina. Em meio à vida comunitária, somos chamados a cumprir o mandato de Jesus que é envio e missão. Na caminhada com Jesus que é o pão da vida, também nos fazemos alimento para os outros, ofertando nossos dons e ajudando-os a descobrir o sentido mais profundo da busca do ressuscitado, bem como realizar o encontro pessoal com Jesus Cristo, aquele que nos chama a segui-lo. Esse encontro renova-se constantemente, pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do querigma, pela vivência mistagógica e pela ação missionária da comunidade. E tudo isso, com amor.
O amor é o caminho que nos leva à esperança do saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, alcançar o infinito dentro do finito, sentir a primavera da esperança no perfume do eterno. Percorreremos esse itinerário fazendo a experiência do que recebemos e do que ofertamos como dom da vida.
Catequistas, Jesus faz-se alimento que gera vida nova no mundo; Sejamos espelho dele, percorrendo nosso caminho, na certeza que podemos arriscar sem medo, porque conosco Ele está. Ele disse: “eu estarei contigo, não temas anunciar-me, em tua boca eu falarei”.
Receba o meu afetuoso abraço.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para Animação bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Querida Irmã e querido irmão Catequista,
Damos sempre graças a Deus por todos vós, lembrando-nos de vós em nossas orações. Sem cessar, diante de nosso Deus e Pai, lembramo-nos da ação de vossa fé, do esforço de vossa caridade e da constância de vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo (1Ts 1,2-3).
Acontecerá no dia 25 de agosto de 2019 o Dia do Catequista. Como o tempo se afigura muito veloz, escrever-lhe outra vez pode até parecer apenas um hábito que se repete a cada ano. Mas se lançarmos um olhar às tantas experiências catequéticas de amor, de dor, de cruz e de vitórias, então as lembranças conferem sentido a estas linhas. Esta carta, além de uma palavra de gratidão em nome dos Bispos do Brasil, quer lhes encorajar à perseverança.
Quero parabenizá-lo(a) por este dia, pois sem sua atuação catequética a fé em Jesus Cristo seria quase que apenas uma ideia. “O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos” (1 Jo 1,3).
Aqueles e aquelas que o Espírito Santo move, a eles também capacita e envia. Por isso mesmo, celebrar o dia do Catequista tem um significado de gratidão e de esperança: gratidão pelo amor e gratuidade dedicados a anunciar a pessoa de Jesus Cristo. Esperança, porque enquanto pudermos contar com catequistas, o anúncio terá também a marca da ternura. Os catequistas, eles e elas, evangelizam com afeto. Os tempos desafiam, requerem novos paradigmas, pedem por novas linguagens, mas se houver paixão a catequese será sempre criativa. E como é grande a afeição de muitos catequistas...!!
Faz já tempo que a Igreja no Brasil propõe uma catequese de inspiração catecumenal. Nas palavras parece que é fácil. Nas reflexões os caminhos apresentam-se evidentes. Mas a realização requer renovação interior, revisão das próprias seguranças e fé confiada na força do Espírito de Deus. Por este caminho seremos uma Igreja que apresenta Jesus Cristo como um nome e uma verdade que atrai. Isto é “evangelizar por atração” (DAp, 159). A grande poetisa brasileira ainda Cora Coralina ainda faz ressoar em muitos ouvidos sua bela frase que muito se aplica à catequese: “Não sei… se a vida é curta ou longa demais para nós, mas, sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas”.
Os Bispos do Brasil vão orar por seus catequistas. Talvez aconteça que não consigam ser suficientemente gratos aos catequistas de suas dioceses. Mas Deus nunca se deixa vencer em generosidade. Um dia Ele mesmo vai abraçá-los por terem oferecido do seu tempo para a catequese. Que a grande Catequista, aquela de Nazaré, caminhe ao seu lado nesta missão tão sublime.
Dom José Antonio Peruzzo
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
Celebração Dia do Catequista 2019
Batizados e Enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo
Querida irmã e caríssimo irmão Catequista, Graça e paz em Cristo Jesus!
Estamos no mês vocacional e nos preparamos para celebrar o dia do catequista, 25 de agosto. Crescemos na convicção de que a catequese está a serviço da iniciação à vida cristã e em nossas realidades se fortalece a prática da inspiração catecumenal para todas as formas de educação na fé.
Estamos em sintonia com o mês da Bíblia, onde refletiremos sobre a Primeira Carta de São João, o mês missionário extraordinário e o sínodo para a Amazônia. Com essas intuições, apresentamos a proposta de uma Celebração para o DIA DO CATEQUISTA, que poderá ser feita no grupo de catequistas e também adaptada à Celebração Eucarística.
Recomendamos que a Celebração seja preparada com antecedência pela equipe de catequistas, liturgia e cantos.
Nossa gratidão aos inúmeros catequistas espalhados pelo Brasil.
Parabéns Catequistas!
Ambiente:
Bíblia, cruz missionária (ou outra), vela bonita, bacia com água e pétalas de flores, óleo perfumado, incenso.
Refrão meditativo:
Tudo por causa de um grande amor! Tudo por causa de um grande amor!
Tudo, Tudo por causa de um grande amor! Por causa de um grande amor!
Motivação inicial:
Animador: Querida comunidade, queridos catequistas! Estamos reunidos para celebrar o nosso chamado e a nossa missão. Rendemos graças ao Senhor da vida, que nos chamou a vida e, pelo batismo, nos envia como seus missionários, para anunciar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, vida e esperança para nossos povos. De modo especial, nestes dias que lembramos da vocação dos nossos catequistas, agradecemos ao Senhor por Eles, que são protagonistas de nossas comunidades no processo de iniciação à vida cristã. Esta celebração nos ajudará a viver sempre mais o sentido missionário da nossa adesão a Jesus Cristo.
Hino de Abertura:
Venham, catequistas, ao Senhor cantar (bis) Ao Deus do universo, venham festejar (bis)
Seu amor por nós, firme para sempre (bis) entrada da cruz missionária Sua fidelidade dura eternamente (bis)
Toda a terra aclame, cante ao Senhor (bis)
Vivamos o batismo com todo o fervor (bis) entrada da bacia com água Nossas mãos orantes para o céu subindo (bis)
Cheguem como oferenda ao som deste hino (bis) entrada do incenso Glória ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito (bis)
Glória à Trindade Santa, glória ao Deus bendito (bis)
Recordação da Vida:
Convidar os participantes tocar na água com pétalas de flores e a recordar elementos ligados ao seu batismo (padrinhos, igreja, presidente da celebração…), lembrando também do seu chamado a serem catequistas (como foi, o que sentiram, por intermédio de quem). Depois da conversa em duplas, alguns partilham com o grande grupo.
Hino:
Antes que eu te formasse dentro do seio de tua mãe, antes que tu nascesses, te conhecia e te consagrei.
Para ser meu profeta entre as nações eu te escolhi, irás aonde enviar-te e o que te mando proclamarás!
Tenho que gritar, tenho que arriscar, ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar, se tua voz arde em meu peito?
Tenho que andar, tenho que lutar, ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar, se tua voz arde em meu peito?
Não temas arriscar-te, porque contigo eu estarei, não temas anunciar-me, em tua boca eu falarei. Entrego-te meu povo, vai arrancar e derrubar, para edificar, destruirás e plantarás!
Deixa os teus irmãos, deixa teu pai e tua mãe, deixa a tua casa, porque a terra gritando está. Nada tragas contigo, pois ao teu lado estarei. É hora de lutar, porque meu povo sofrendo está.
Salmo:
Refrão: A minh’alma tem sede de vós, como terra sedenta, ó meu Deus
— Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh’alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! R:
— Venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder. Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam. R:
— Quero, pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos! A minh’alma será saciada, como em grande banquete de festa; cantará a alegria em meus lábios. R:
— Penso em vós no meu leito, de noite, nas vigílias suspiro por vós! Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! R:
Canto:
A comunidade dança alegre
A comunidade dança alegre e canta, acolhendo agora a Palavra Santa.
A Palavra vem, vem nos libertar
como um vento forte a nos arrastar.
Vamos caminhar, irmãs e irmãos, já chegou a hora da nossa missão.
Evangelho (Mt 28, 16-20)
Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.
Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram.
Então Jesus aproximou-se e falou:
“Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra.
Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!
Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”. Palavra da Salvação.
Todos: Glória a vós, Senhor.
Silêncio. Meditação. Partilha.
Meditação:
Leitor: Nestas palavras que ouvimos no Evangelho Jesus Cristo não confiou uma tarefa simples aos seus discípulos, mas deu-lhes uma identidade que os projeta para além de si, na comunhão com a Santíssima Trindade, em favor do mundo inteiro, por meio do testemunho, do serviço e do anúncio do Reino de Deus (cf. DGAE 2019-2023, n.21).
Todos: Eis-me aqui! Envia-me, Senhor!
Leitor: Batizados e Enviados: A Igreja de Cristo em missão no mundo é o tema do Mês Missionário Extraordinário, proposto pelo Papa Francisco. É o tempo oportuno para fortalecer o nosso compromisso missionário, renovando nosso encontro com Jesus Cristo e alegria da fé recebida desde o santo Batismo.
Todos: Eis-me aqui! Envia-me, Senhor!
Leitor: A missão parte do encontro com Cristo e a Ele conduz. Conhecer Jesus Cristo foi o melhor que aconteceu em nossas vida. Torná-lo conhecido é o melhor presente que podemos dar a uma pessoa (Cf. DAp. 29). Eis o sentido da missão: partilhar o Dom de sermos amados, perdoados e acolhidos por Deus. Ela é a partilha de uma alegria. É um anúncio em palavras e gestos que irradia e atrai.
Todos: Eis-me aqui! Envia-me, Senhor!
Leitor: Disse-nos o Papa Francisco: “Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. Para o amor de Deus, ninguém é inútil nem insignificante. Cada um de nós é uma missão no mundo, porque fruto do amor de Deus.”
Todos: Eis-me aqui! Envia-me, Senhor!
Leitor: A iniciação à vida cristã é indispensável para que a Igreja cumpra sua missão, de formar discípulos missionários. É tempo de decidirmos por sermos Igreja querigmática e missionária: peregrina, desinstalada, samaritana, misericordiosa. Precisamos ter o Evangelho no coração e nas mãos e acolher quem está desnorteado, caminhar com as pessoas em situações difíceis, curar feridas (cf. Doc. 107, n.38, 109) 6
Todos: Eis-me aqui! Envia-me, Senhor!
Leitor: O catequista a serviço da iniciação à vida cristã ajuda a comunidade a se renovar e assumir o seu caráter missionário. A coragem, a decisão e a criatividade são marcas da sua espiritualidade. Muito mais que transmitir conceitos, ele transmite a graça divina experimentada em sua vida, como mistagogo e companheiro nas estradas da vida.
Testemunhos Missionários:
Convidar alguns catequistas ou outros leigos da comunidade para testemunharem brevemente alguma “alegria missionária” que sentem como batizados, membros da comunidade e enviados à missão de fazer discípulos missionários.
Momento Simbólico e Preces:
Pedir aos participantes que segurem ou toquem a cruz e recordem situações, pessoas ou realidades de sofrimento e dor que clamam pela nossa presença missionária como batizados e enviados.
Animador: Partilhemos espontaneamente os sentimentos e os propósitos pessoais. Deixar falar.
Canto:
Leva-me aonde os homens necessitem da palavra,
Necessitem de força de viver, onde falte a esperança,
Onde tudo esteja triste simplesmente, por não saber de Ti
Preces
Animador: Ao Deus que nos chama continuamente e nos faz participantes da sua missão, rezemos com a confiança de filhos e filhas:
Leitor: Leva-nos Senhor, ao encontro com a Vossa Palavra a fim de que sejamos servidores e não meros ouvintes
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Leitor: Leva-nos à experimentarmos a alegria viver em comunidade o amor fraterno
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Leitor: Leva-nos às famílias, especialmente as mais fragilizadas e necessitadas de ajuda:
às famílias
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Leitor: Leva-nos aos pobres, que são a riqueza de nossa Igreja, mas descartados e excluídos de nossa sociedade
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Leitor: Leva-nos às periferias sociais e existenciais de nossas cidades, campos e florestas
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Leitor: Leva-nos aos jovens a fim de os acompanharmos em seu itinerário de discernimento humano e espiritual
R: Ficai conosco, Senhor, todos os dias!
Oração do Mês Missionário
Animador: Rezemos juntos a Oração do Mês Missionário:
Pai Nosso
o teu filho unigênito Jesus Cristo ressuscitado de entre os mortos confiou aos seus discípulos:
“ide e fazei discípulos todos os povos.”
Recorda-nos que através do batismo
nos tornamos participantes da missão da Igreja. Pelos dons do Espírito Santo,
concedei-nos a Graça de ser testemunhas do Evangelho,
corajosos e vigilantes,
para que a missão confiada à Igreja, ainda longe de estar realizada,
possa encontrar novas e eficazes expressões que levem vida e luz ao mundo.
Ajudai-nos, Pai Santo, a fazer que todos os povos possam encontrar-se com o amor
e a misericórdia de Jesus Cristo,
Ele que é Deus convosco, e vive e reina na unidade do Espírito Santo,
agora e para sempre.
Amém.
Animador: Nossas preces prossigamos, rezando juntos a oração que o Senhor nos ensinou:
Todos: Pai Nosso...
Animador: Chegamos ao final desta celebração. Somos gratos ao Senhor por sermos batizados e enviados. Que nossa comunidade reconheça sempre mais a importância dos catequistas, neste tempo em que a transmissão da fé é um grande desafio para todos nós. Vamos nos manter sempre unidos, com alegria, coragem e esperança, porque o Senhor que está conosco todos os dias e nos capacita para sermos seus discípulos missionários.
Bênção
O Senhor te abençoe e te guarde.
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja propício. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Canto (ou outro a escolha):
O Deus que me criou, me quis me consagrou para anunciar o seu amor.
Eu sou como chuva em terra seca: pra saciar, fazer brotar eu vivo para amar e pra servir!
É missão de todos nós! Deus chama, eu quero ouvir a sua voz!
Eu sou como a flor por sobre o muro. Eu tenho mel, sabor do céu, eu vivo pra amar e pra servir.
Eu sou como estrela em noite escura. Eu levo a luz, sigo a Jesus. Eu vivo par amar e pra servir!
Eu sou como abelha na colmeia. Eu vou voar, vou trabalhar. Eu vivo pra amar e pra servir.
Eu sou, sou profeta da verdade. Canto a justiça e a liberdade. Eu vivo para amar e pra servir!
Comissão para Animação Bíblico-Catequética
Para dizer a minha conversão tenho várias analogias. A primeira é com o conto A metamorfose, de Franz Kafka, em que Gregor Samsa, personagem principal, acorda em forma de inseto gigante virado para cima com o patrão a bater à porta furioso pelo indesculpável atraso.
A conversão é algo profundamente corporal. Não é só a alma que se modifica estruturalmente; também a carne rebenta em palavras e gestos estranhos de um corpo maior que o nosso. Converti-me na adolescência. A lembrança dessa metamorfose cruza-se assim com a memória da acne que era aborrecida, embaraçosa, símbolo máximo do meu estado transitivo e, por isso, de certo modo, pascal. O já distante dia da minha conversão foi o dia da inauguração da minha vida. É o coração da minha história. Ele é um ontem pegajoso, de doce e firme claridade, a pulsar na premência que faz com que este dia, entre todos, seja o de hoje.
Na verdade, o convertido quer comprovar a si próprio que se converte, como quem pede para ser beliscado numa circunstância inacreditável. A si próprio exige uma prova, uma penhora de si o mais material possível, uma rutura radical. Uma vida diferente na qual falte definitivamente algo valioso. Explica-se assim a irmandade entre o convertido e o pobre: por vontade ou por inevitabilidade, ambos suspendem o fascínio pela matéria e se refundam com a marca da sua falta.
A segunda analogia é a do vulcão. A conversão é um momento eruptivo do passado em que quem se converte decidiu e foi decidido. A lava que se expele desse microssegundo de brutal viragem transforma-se no novo país pessoalíssimo em que se passa a viver. A breve memória do consentimento cristaliza-se num território vital. Como um trauma dócil, um acidente bom, uma queda do cavalo que nos deixa com as feridas que se fizeram em nós e que nos são.
O convertido é perturbado pela sensação de ser desadequado ao mundo. Vive em tensão com uma consciência também ela nômade de imperativo falhado em imperativo falhado, com um Big Brother que lhe diz instantemente: «Estás a esquecer o teu nome». A propósito, converter-se é passar a ter um nome outro, assinalado como ferrete em carne de gado. Um nome pago com discussões familiares, com risos no corredor da escola, com uma coleção de olhares de estranheza sobre si, na dor de se ter uma fé impossível de higienizar. Para mim, foi passar a chamar-me mais «cristã» que Cátia.
A terceira e última analogia estabeleço-a com o filme Instantes Decisivos (ou Sliding Doors, de Peter Howitt, estreado em 1998). Helen, personagem principal, acaba de ser despedida e dirige-se para a estação de metro. Aí o enredo desdobra-a em duas: uma Helen que apanha o metro, chega a casa e encontra o namorado com outra mulher; e outra Helen que perde o metro e passa por um conjunto de outras peripécias não tomando conhecimento da traição.
Conversão tem a ver com «versão». É a escolha de uma versão de si e da vida. É fazer a experiência de ver passar ao seu lado a pessoa que se podia ter sido e que não se foi. E se esta atração por Jesus não tivesse incubado como um vírus que não deixa pedra sobre pedra, ideia sobre ideia, sonho sobre sonho? De repente, tem-se os medos e as prioridades trocadas. E vive-se no avesso das coisas, no seu lado de dentro e no seu lado alto. E muda-se de casa para um miradouro que é demasiado elevado para os nossos pequenos olhos.
O mundo torna-se um extenso e intenso museu que Deus dispõe e reatualiza diariamente, numa exposição de coisas belas que parece visível só para o próprio. Mas o mundo é ao mesmo tempo uma sala de espera vazia por aquele que ainda não veio, e o luto por tudo o que entretanto acontece de triste, à custa de tanta desistência do seu amor. O convertido é um irreconciliado com as suas incoerências, por tudo lhe saber a demérito comparado com aquele grande encontro, pela suspeita constante de estar a trair esse «agarramento» do coração.
A conversão não faz um alisamento às interrogações mas é o préstimo de uma angústia que em Jesus aprende a ser amada e amante. Vive-se na urgência de concretizar o programa desse «sim» que não foi propriamente dito, mas que se disse em nós e que nos disse a nós.
O convertido é alguém que diariamente tenta disfarçar a sua loucura, civilizar o aguilhão de luz que o assola desde aquele dia. Aquele dia em que acordou num outro rosto e num outro corpo. Aquele dia em que o vulcão eclodiu, e lhe deu uma morada impermanente ao expulsá-lo de si próprio. Aquele dia em que perdeu o metro para sempre, e com ele, a versão mais banal ou expectável de si; aquela que era para ser. Aquele dia em que Jesus veio, permaneceu e se tornou o seu único bem.
Cátia Tuna
31.07.2019
In: opontosj
Dom Marco Aurélio Gubiotti (bispo de Itabira-Cel. Fabriciano-MG) foi eleito para presidir a Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 (que é responsável por este site). Nossas Boas-Vindas a ele que passa a ser o Bispo Referencial da Catequese nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Dom Marco Aurélio é mestre em Estudos Bíblicos e irá presidir esta Comissão que tem a responsabilidade de animar o trabalho Bíblico-Catequético, a Catequese a serviço da Iniciação à vida cristã, nesses estados mencionados. Além disso, a Comissão coordena o Curso de Pós-Graduação Especialização em Catequética em parceria com a PUC-MG, produz subsídios catequéticos e presta assessoria em formações nas dioceses.
Pedimos ao Espírito que o ilumine e desejamos que o trabalho na Comissão Bíblico-Catequética seja fecundo!
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