Dos artigos do Símbolo Apostólico, talvez o mais inesperado seja este: creio na remissão dos pecados. Será possível que todos os pecados, por grandes e graves que forem, possam ser “remidos”, isto é, “apagados”, inteiramente perdoados? Não nos dirá Deus o que nós dizemos com frequência: “perdoo, mas não esqueço”?

 

No dia do Yon Kippur (“Dia do Perdão”), os judeus vão à beira-mar e, de costas ao mar, jogam uma pedra, que afunda na água. Quando se voltam para o mar, não enxergam mais a pedra. Eles expressam assim que Deus “jogará no fundo do mar todos nossos pecados” (Miqueias 7, 19).

 

Jesus confirmou a fé judaica a respeito do perdão dos pecados. Ele nos ensinou que Deus é como o pai do filho pródigo. E a Pedro lhe disse que devemos perdoar “setenta vezes sete vezes” (Mt 18, 21-22). Ele próprio, desde o alto da Cruz, pediu perdão para aqueles que o estavam crucificando, porque “não sabem o que fazem” (Lc 22,34).

 

Na Carta Apostólica “Porta Fidei”, com a qual Bento XVI anunciou o “Ano da Fé”, lê-se que este ano “é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At5, 31)”.

 

Para São Paulo, o amor misericordioso de Deus nos introduz em uma vida nova: «Pelo Batismo fomos sepultados com Cristo na morte, para que, assim como Ele foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, assim também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6,4). Esta vida nova transforma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. A mentalidade e o comportamento dos batizados vão sendo pouco a pouco purificados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. Por isso, na Igreja Católica, recorremos ao sacramento da penitência, que celebra o perdão dos pecados cometidos depois do batismo, reconciliando-nos com Deus, com a comunidade eclesial e conosco mesmos.

 

Para muitos jovens, a confissão individual (ter que “contar os pecados ao padre”) é motivo de constrangimento. Para a maioria dos fiéis, porém, a confissão sacramental, com sincero arrependimento e propósito da emenda, é fonte de profunda paz. Deixo aqui um convite aos jovens para que, neste ano em que a Campanha da Fraternidade lhes foi dedicada, experimentem a alegria libertadora da completa “remissão dos pecados”.

 

 

Padre Luis González-Quevedo, sj

Teólogo, pregador de retiros inacianos, diretor espiritual do Centro Loyola de Goiânia-GO

15.05.2013