Catequese no mundo atual: desafios e possibilidades (II)

2 – A dimensão sociocultural atual

Continuando nossa leitura do Diretório para a Catequese de 2020, ao ler a realidade atual, o documento apresenta o ponto de vista sociocultural.

Nesta leitura, o documento fala sobre os processos de comunicação de massa, buscando destacar os benefícios e os malefícios desses processos. De um lado, a comunicação aproxima, possibilita trocas e aprendizados. De outro, pode manipular as consciências, produzir violência e isolamento. Estamos atentos: o que nos une é dialógico, o que nos divide e produz guerras entre nós é diabólico!

Com tantos meios para nos comunicarmos, produziu-se a sociedade da informação. Vejamos que ter informações é algo bom, ajuda a conhecermos as situações para tomarmos decisões que são importantes para nossa vida. De outro, também cansa o tempo todo recebermos e produzirmos informações. Ainda mais quando não temos condições (conhecimento, tempo etc.) para compreendê-las. Para isso, indica o Diretório, é necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores.

Diante disso, o Diretório nos pede que olhemos para essa realidade com espírito de fé, entendendo que nossa missão é levar às pessoas de hoje o Evangelho da alegria que tudo renova e vivifica. Assim, somos convidados a entrar nos diversos espaços da vida social, como a escola, a investigação científica e o ambiente de trabalho, as redes sociais e de comunicação, nos âmbitos onde se empreendem esforços pela paz, pelo desenvolvimento, pelo cuidado com a criação, pela defesa dos direitos dos mais fracos; mas, também, no mundo do tempo livre, do turismo, do bem-estar, no espaço da literatura, da música e das várias expressões artísticas. Todos esses são espaços onde devemos fazer chegar a alegria do Evangelho, não por imposição ou cansaço, mas pelo diálogo, testemunho de serviço e busca do bem comum. Para isso, é preciso ter uma atitude de escuta e diálogo, examinando todas as coisas, mantendo o que é bom (cf. 1Ts 5,21).

Na Igreja particular (dioceses) e em cada comunidade cristã ou grupo eclesial, atentos a essa realidade, somos convidados a formular a compreensão do querigma (anúncio) mais adequada às várias mentalidades, para que o processo da catequese esteja verdadeiramente inculturado nas múltiplas situações e o Evangelho ilumine a vida de todos.

Assim, os espaços humanos, como o contexto urbano das grandes cidades, o contexto rural e o das culturas locais tradicionais nos são apresentados como desafios, mas também possibilidades para a ação catequética.

A catequese, então, é motivada a oferecer espaços e ações comunitários de fé em que, vencendo o anonimato nas grandes cidades, se reconhece o valor de cada pessoa e a todas é oferecido o bálsamo da fé pascal para aliviar as feridas. São espaços de oração e de comunhão, em que a paróquia como comunidade de comunidades, com proximidade fraterna, revela a maternidade da Igreja e dá um testemunho concreto de misericórdia e ternura, que gera orientação e sentido para a própria vida da cidade. No contexto da vida no campo, a catequese é convidada a valorizar as experiências comunitárias, o amor pela natureza e a simplicidade como se busca conduzir a vida. 

É preciso também propor processos de evangelização e de catequese adequados à cultura dos povos originários (indígenas e outros), sem nunca impor a própria cultura. Aprender a ver as “sementes do Verbo” presentes nessas realidades, em suas pessoas e costumes, louvando a Deus, e aprendendo a olhar para todas as pessoas com respeito e amor, ajudando-as a amadurecer na fé e a crescer como seguidoras de Jesus.

Também, a catequese deverá, sobretudo, ter o cuidado de apreciar a força evangelizadora das expressões da piedade popular, integrando-as e valorizando-as no seu processo formativo e deixando-se inspirar pela forma dos ritos e dos símbolos do povo, como maneiras de conservar a fé e a transmiti-la de uma geração à outra.

Em todas as situações, o discernimento deve ajudar a compreender as trevas e luzes presentes nas diversas culturas, salientando o que é bom, fazendo multiplicar os valores do Reino (amor, partilha, respeito, cuidado com a vida etc.) já presentes e ajudando a superar as visões e posturas que são contraditórias a esses valores (preconceitos, autoritarismos, exclusões etc.).

Suzana Costa Coutinho

Mestra em Educação, jornalista, professora da Especialização em Catequética do Regional Leste 2

18.01.23

imagem: pexels.com