Numa grande cidade do Japão, Keita tem 6 anos. É uma criança calma e delicada, que faz o possível por agradar aos seus pais, uma mãe disponível e sorridente, um pai demasiado absorvido pelo seu trabalho mas exigente quanto aos resultados escolares e artísticos do filho. A vida de Keita vai ser totalmente transformada a partir do momento em que os pais são convocados à maternidade onde nasceu. Quando nasceu, foi trocado com outro recém-nascido. Esta descoberta vai mergulhar duas famílias em momentos dolorosos e sentimentos complexos.

O realizador nipónico Kore Eda Hirokazu tem, na sua belíssima filmografia, vários filmes sobre a infância e a família. Crianças entregues a si próprias com “Nobody knows” (2004), reunião familiar agridoce em “Still walking” (2008), dois irmãos magoados pela separação dos pais em “I wish” (2011).

Desta vez, se as crianças estão novamente no centro da intriga do filme, é um dos pais que é a personagem principal. Interpretado por Masaharu Fukuyama, cantor e ator célebre no Japão, Ryota é aquele que esta história de troca de bebés mais vai transformar. Persuadido de que os laços de sangue são mais fortes do que tudo, ele procura a troca o mais rapidamente possível, provocando a surpresa alarmada do outro pai, para quem não se podem trocar crianças como quem troca de roupa…

Podemos lamentar que as duas famílias sejam tratadas de forma algo caricatural. Na casa dos ricos, a decoração e o vestuário dos pais e da crianças têm cores neutras, pelas quais o olhar desliza. Compreende-se que a mãe se tenha demitido do trabalho para se tornar dona de casa a tempo inteiro, papel que desempenha com uma submissão por vezes desconcertante para os espetadores ocidentais.

Na família mais modesta, pelo contrário, as roupas têm cores vivas, e mesmo berrantes nas camisas do pai, enquanto que a mãe não hesita em repreender o marido e zombar dele. Nesta casa conserta-se o que avariou e demonstra-se corporalmente o afeto, enquanto que na outra se consome e praticamente nunca há contato.

Apesar disto, “Tai pai, tal filho” é um filme tocante. Trata com justeza uma questão muito importante: como é que uma pessoa se torna pai? Recusando o melodrama, o realizador deixa aos seus personagens, e aos espetadores, tempo para caminhar, para digerir o inacreditável. Se cada família está pronta para receber as duas crianças, nenhuma se consegue ver sem o “seu” filho.

O sofrimento infligido às crianças não pode deixar os pais indiferentes. Lentamente, e com uma realização tão brilhante como discreta, cada personagem amadurece segundo os erros cometidos, adultos e crianças. Mesmo no Japão, onde a cultura social e familiar é diferente, a paternidade não é nem uma evidência nem uma questão puramente biológica. 

Magali Van Reeth

 

Para a catequese: o filme pode ser utilizado para ajudar nas reflexões sobre o que é ser pai e mãe, na catequese com os pais, na catequese com adultos.